ASSINE
search button

Alvo de protestos, venda das refinarias deve ser fechada ainda em 2020, diz presidente da Petrobras

Compartilhar

Apesar dos protestos dos petroleiros, que estão há 20 dias em greve, a Petrobras disse nesta quinta (20) que espera fechar a venda de 8 de suas 13 refinarias até o fim de 2020. Segundo a empresa, há propostas na mesa para todas as unidades.

Em teleconferência com analistas para detalhar o lucro recorde de R$ 40,1 bilhões registrado em 2019, o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, voltou a defender a redução da participação no mercado brasileiro de refino, um dos focos de sua gestão.

"A falta de competição é ruim para a Petrobras, porque se não tem competidores, [a empresa] acaba virando um fat cat [gato gordo]. Por que vou cortar custos, produzir inovações? Não tem ninguém aí para desafiar", disse o executivo.

Contrários à privatização dos ativos, os petroleiros paralisaram suas atividades no início de fevereiro, em uma greve que teve a adesão de cerca de 21 mil empregados da estatal, segundo os sindicatos, e ganhou apoio de partidos da oposição e outras categorias de servidores públicos.

O processo de venda das refinarias está agora em uma fase que a Petrobras chama de vinculante, na qual interessados têm acesso a informações mais detalhadas sobre os ativos. Segundo Castello Branco, há interesse de empresas brasileiras e estrangeiras.

"Ficamos felizes com as propostas, recebemos muitas propostas por cada uma das refinarias. Nenhuma delas ficou órfã", disse ele. "O Brasil tem que se ver livre dessa situação que é quase única no mundo, uma única empresa ser dona de todo o refino", voltou a defender.

Os interessados estão agora visitando as instalações e a expectativa da Petrobras é receber as propostas no segundo trimestre, com um pouco de atraso em relação à projeção inicial. Castello Branco disse que o atraso foi solicitado pelos concorrentes aos ativos e que não impacta a programação da Petrobras.

A ideia é fechar os acordos até o fim do ano e concluir a transferência das refinarias até o fim de 2021, respeitando prazo negociado com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em termo de ajustamento de conduta para encerrar investigações sobre prática de poder abusivo.

A venda de US$ 16,3 bilhões (R$ 64 bilhões, ao dólar médio de vendas usado pela empresa em seu balanço) em ativos impulsionou o resultado da estatal em 2019. Com o lucro de R$ 40,1 bilhões, a empresa anunciou a distribuição de R$ 10 bilhões em dividendos a seus acionistas.

Castello Branco disse que a receita ajudou a empresa a investir na compra de áreas exploratórias do pré-sal para garantir sua sustentabilidade no futuro. A companhia investiu US$ 16,7 bilhões (R$ 66 bilhões, pelo dólar usado no balanço) na compra de novos blocos em leilões do governo.

Petroleiros e oposição, porém, pretendem manter mobilizações contra a privatização das refinarias. A greve atual é a mais longa da categoria desde 1995, quando os trabalhadores cruzaram os braços por 32 dias e foi iniciada em protesto contra cerca de mil demissões causadas pelo fechamento de fábrica de fertilizantes no Paraná. Nesta quinta, os empregados da Petrobras decidirão em assembleias se

suspendem o movimento para negociar com a empresa no TST (Tribunal Superior do Trabalho), em reunião de mediação agendada para esta sexta (21). As demissões estão suspensas por determinação judicial, mas a Petrobras diz que não serão revertidas.

Para justificar a venda das refinarias, Castello Branco citou ainda prejuízos causados pelo represamento de preços dos combustíveis durante os governos petistas. E defendeu que não há ingerência política no comando da empresa no governo Bolsonaro.

"Até agora é zero, zero, zero, zero. Pode ser que aconteça no futuro, mas até hoje, passando um ano e um mês não vi nenhuma interferência, não vi sinais de que haverá interferência", afirmou. "O que o governo espera é que a Petrobras tenha uma boa performance."

Em abril de 2019, a estatal recuou de um aumento no preço do diesel depois que o presidente Bolsonaro ligou para Castello Branco para alertar sobre riscos de greve de caminhoneiros. O recuo derrubou as ações da companhia, diante da percepção de que a decisão havia sido política. 

Na teleconferência, a empresa disse que o surto de coronavírus ainda não afetou as exportações de petróleo e que todas as cargas previstas este ano foram entregues. A China é o maior cliente da estatal, responsável por 65% das exportações de petróleo da empresa.

A queda no transporte internacional de bens, porém, teve efeito nos preços do combustível de navegação e do óleo combustível, produtos que vêm ganhando importância para a Petrobras - com pouco enxofre, o petróleo do pré-sal produz combustíveis adequados às novas regras do transporte marítimo.

As margens desses produtos têm justificado, inclusive, a estratégia de "degradar" óleo diesel, um produto mais nobre, para retirar das refinarias um volume maior de combustíveis para navios, disse a diretora de Refino e Gás da empresa, Anelise Quintão.

Segundo ela, devido ao baixo teor de enxofre, o petróleo do pré-sal tem sido vendido em alguns momentos com prêmio sobre a cotação do Brent, tipo de petróleo negociado em Londres e usado como referência mundial de preços. (Nicola Pamplona/FolhaPressSG)