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O jeito Odebrecht de fazer negócios

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A baiana Construtora Norberto Odebrecht custou a chegar às grandes obras públicas do país (Sul e Sudeste) e dos grandes centros, dominadas pelas empreiteiras tradicionais (Camargo Corrêa, Mendes Jr, Andrade Gutierrez, a paranaense CR Almeida). Esteve fora da ponte Rio-Niterói (Camargo, Mendes Jr e Rabello integraram o consórcio nacional), depois replicado no metrô de São Paulo e na hidrelétrica de Itaipu. No Rio, que teve o metrô iniciado por Mendes Jr e Camargo, desembarcou em grande estilo ao vencer a concorrência para a construção do moderno edifício-sede da Petrobras, na Avenida Chile, no Rio de Janeiro, no fim dos anos 60. 

A partir dos anos 90, inicia uma expansão vertiginosa na área de engenharia. Com a verticalização da construção pesada (montagem industrial e engenharia elétrica) garantida pela reserva de mercado às empreiteiras nacionais pela Constituinte de 1988 (assim como bancos e informática) a CNO entra para o time das 10 grandes. Adquire musculatura fora da construção pesada ao participar dos primeiros processos de privatização da petroquímica no Governo Collor. 

Na petroquímica, que ia sendo privatizada, foi engolindo um a um os concorrentes. Depois fica com os polos da Bahia, do Sul (Copesul), São Paulo (ao comprar a Unipar) e no gás de Duque de Caxias (RJ). Tudo já sob o chapéu da Braskem (novo nome da Trikem, que foi construída com uma parceria sui generis com a Petrobras de sócio com 47% das ações ON e a CNO no controle com 50,1%, cabendo aos demais acionistas ordinários apenas 2,9% das ações). Contradição? Não é isso mesmo: a CNO reprivatiza a petroquímica brasileira tendo o Estado (Petrobras) como o grande sócio e fornecedor de nafta a preço atrelado. Isso valeu até inaugurar petroquímica do México, em parceria com a Idesa, deixando de depender exclusivamente da Petrobras. 

Mea culpa com erros do passado

Como reconheceu no comunicado interno aos 48 mil empregados sobre o pedido da recuperação judicial de R$ 65,5 bilhões em dívidas da organização que se transformou num dos dez mais poderosos conglomerados brasileiros (que chegou, só na área de engenharia a concentrar 20% de todo o faturamento do setor na América Latina, antes da Lava Jato trazer à luz algumas de suas falcatruas e métodos para obter contratos superfaturados ou seguidamente reajustados com aditivos aos preços base que levaram a ganhar os contratos) a empresa se diz vítima da mais “grave crise econômica em décadas” e dos “erros cometidos no passado”. 

Textualmente diz a nota aos empregados: “É claro que, durante esse tempo, a mais grave crise econômica em décadas impactou de forma significativa a recuperação dos Negócios. Adicionalmente, ainda não recebemos pleno reconhecimento por termos nos transformado inteiramente e superado os erros cometidos no passado, o que nos traz mais dificuldades de acesso a novas fontes de crédito e liquidez.” 

Vale lembrar que o modo Odebrecht de fazer negócios não se limitava a artimanhas para ganhar contratos (sem projeto executivo muito detalhado, como foi o caso da reforma do Maracanã, com preços baixos, reajustados depois por aditivos, e pagamento de contribuições políticas diretas ou indiretas, via parceiros e fornecedores, tudo reconhecido em dezenas de acordos de leniência dos executivos, não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos e Suíça). 

Envolvia créditos oficiais (daí, BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal terem virado os maiores credores na era do PT), mas também pressões para que fundos de pensão de estatais ou fundos geridos pelo governo de plantão para viabilizar negócios. A OTP (Odebrechet Transportes, que construiu e gere concessões de portos, aeroportos, estradas, ferrovias, metrô, VLT, entre outras concessões) tem o capital controlado 59,30% pela holding, outros 10,61% foram subscritos pela BNDESPar (braço de investimento do BNDES) e 30% são do FI- FGTS, o Fundo de Investimento do FGTS (dinheiro dos trabalhadores) gerido pela Caixa Econômica Federal. 

A linha do tempo no grupo Odebrecht https://www.odebrecht.com/pt-br permite ver quando ocorreram os grandes saltos de vertilicalização e horizontalização de negócios do grupo. A fase áurea foram os 13 anos e meio da era PT. Após a Lava Jato, a empresa teve obras suspensas pela Petrobras e por vários países na América Latina e África. 

Para quem se escandaliza ou acredita que a Lava Jato foi uma ação apenas para punir o ex-presidente Lula (apanhado na rede de vantagens indiretas proporcionadas pelas empreiteiras Odebrecht e OAS (são sócias no estaleiro Enseada, na Bahia, que ficou com 96,5% para a CNO e 3,5% para a OAS, após a saída da UTC, também envolvida na Lava Jato, e da Kawasaki, japonesa) vou contar uma pequena história dos anos 80, no fim da ditadura militar, do governo do General Figueiredo que envolveu dois conhecidos. 

Com a crise da dívida externa, em 1982, por pressão do FMI para ajuste das contas públicas, o czar da Economia, ministro do Planejamento, Delfim Neto, criou a Secretaria de Controle das Estatais (elas eram muito mais numerosas e poderosas que as atuais). A liberação de recursos sofria marcação cerrada. Pois a Odebrecht tinha faturas a receber na construção da hidrelétrica de Samuel (RO). Para o burocrata que liberaria o dinheiro da Sest incluir as faturas da construtora baiana na lista de prioridades a empreiteira se dispôs a fazer pequeno agrado ao burocrata: construir uma mansão num terreno dele no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Para não aparecer, a obra foi sublocada a pequena construtora carioca, indiretamente paga pela CNO, atualmente Odebrecht Engenharia e Construção (OEC). 

O mundo gira e a Lusitana roda. A corrupção só aumentou de tamanho.