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Guerra dos Refrigerantes IV: Controlador da Itaipava, Grupo Petrópolis articula lobby no Congresso contra bebidas brasileiras

Afrebras diz que associação sofreu "duro golpe" da cervejaria, que pretende lançar frente parlamentar e prejudicar pequenas e médias indústrias nacionais

Reprodução -
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Com o grande objetivo de articular o aumento dos seus lucros, o Grupo Petrópolis, controlador da cervejaria Itaipava, organiza o lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Brasileira de Bebidas, sob a presidência do deputado Fausto Pinato (PP-SP), conforme requerimento protocolado na Câmara dos Deputados.

A Afrebras (Associação de Fabricantes de Refrigerantes do Brasil), que representa mais de 100 indústrias de bebidas do país, repudia a tentativa do grupo de seduzir os parlamentares e a imprensa, oferecendo um “coquetel de posse da nova diretoria”, que será realizado nesta quarta-feira (22), no Salão Nobre do Senado, em Brasília.

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(Foto: Reprodução)

No convite, o Grupo Petrópolis, alvo da Lava Jato, usa, de forma irresponsável, o mesmo nome da frente parlamentar, que começou a ser adotado, há 11 anos, em mobilização do setor organizada pela Afrebras, que é representada por Fernando Rodrigues de Bairros. De acordo com ele, o Grupo Petrópolis apropriou-se até da logomarca da frente, que vem sendo usada desde 2013, em conjunto com a Afrebras. “A associação sofreu um duro golpe do Grupo Petrópolis, que tenta arquitetar uma frente parlamentar sem legitimidade para representar a indústria brasileira de bebidas, que sendo continua formada, majoritariamente, por associados da Afrebras”, afirma Bairros. 

Na prática, de acordo com Bairros, o Grupo Petrópolis se alinhou a uma profissional de relações institucionais, que era contratada pela Afrebras, para obter informações privilegiadas e sigilosas do setor e da associação, com o único objetivo de atender aos interesses do controlador da cervejaria Itaipaiva. “De forma antiética, a profissional usou toda a estrutura da Afrebras para tentar repassar, sem qualquer tipo de autorização, informações do setor de bebidas brasileiro para fundamentar o plano de atuação arquitetado pelo Grupo Petrópolis”, disse Bairros. 

Com apoio da Afrebras, a verdadeira Frente Parlamentar Mista em Defesa da Indústria Brasileira de Bebidas começou em 2008 e, desde então, continua se mobilizando pela valorização das pequenas e médias indústrias de bebidas e pelo desenvolvimento nacional. Neste ano, a Afrebras já ofereceu um jantar de pré-lançamento da frente, no dia 14 de março, na Steak Bull Churrascaria, em Brasília, onde reuniu representantes das pequenas e médias indústrias de bebidas do Brasil, parlamentares e imprensa. 

Grupo teve parcelamento de dívida por dois mil anos anulado pelo TJRJ

A Cervejaria Petrópolis, que tem duas fábricas no Estado do Rio (nos municípios de Petrópolis e de Teresópolis), teve suspenso, na semana passada, em decisão unânime dos três desembargadores da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), dia 14 de maio, o parcelamento em mais de dois mil anos, uma dívida fiscal de R$ 1,2 bilhão com o estado do Rio. Os desembargadores aceitaram o recurso da PGE-RJ e sustaram o acordo. Com isso, o Estado poderá cobrar a dívida de forma integral. A decisão também abre espaço para uma investigação do MP sobre outras dívidas.

O Estado não podia cobrar a totalidade da dívida enquanto vigorava o parcelamento. Agora, a cobrança se torna viável e o Ministério Público poderá investigar eventuais crimes cometidos pela empresa, segundo a PGE-RJ. Estima-se que essa empresa deva ao Estado mais de R$ 3 bilhões em impostos.

De acordo com o Procurador-Assistente da Procuradoria Tributária (PG-3), João Paulo Melo do Nascimento, o parcelamento seria de dois mil anos, isso sem contar a correção monetária, com base numa interpretação deturpada de uma lei estadual de 2015. "Contando o valor dos acréscimos, o parcelamento se tornaria literalmente eterno, pois a parcela paga sequer amortizaria os juros e correção monetária vincendos”, disse.

O Grupo Petrópolis, que tem como principal acionista, desde 1998, o empresário Walter Faria, controla as cervejas Itaipava, Crystal, Lokal, Petra, Black Princess, Weltenburguer Kloster e Ampolis. E fabrica ainda os refrigerantes It! e os energéticos TNT, Magneto e Ironage. Além do Rio de Janeiro, o grupo tem duas fábricas em São Paulo, outra na Bahia, uma unidade em Pernambuco e ainda uma fábrica em Rondonópolis (MT).

Walter Faria foi indiciado na operação Lava Jato por lavagem de dinheiro associada à Odebrecht. Em depoimento à Polícia Federal, em 2017, durante inquérito da Lava Jato, segundo relato da revista “época”, o dono da Itaipava disse que usou a repatriação junto à Receita Federal para legalizar contas na Suíça usadas como intermediárias do pagamento de propina da Odebrecht no Brasil. O empresário revelou ainda que essas contas eram abastecidas com recursos oriundos de uma contabilidade não declarada, o caixa dois do grupo Petrópolis, por meio de operações com diversos doleiros no Brasil.