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737 MAX, o avião estrela que pode sair caro para a Boeing

Simon MAINA / AFP -
Avião da Ethiopian Airlines
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Em janeiro, a Boeing previa que janeiro de 2019 seria um ano recorde em relação a lucros e entrega de aviões, graças ao 737 MAX, uma nova versão de seu modelo mais vendido. Dois meses depois, porém, a companhia vive uma de suas maiores crises.

Desde segunda-feira, o fabricante americano enfrenta uma avalanche de imobilizações do 737 MAX 8, depois que um avião desse modelo caiu no domingo na Etiópia, matando as 157 pessoas que viajavam a bordo.

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Avião da Ethiopian Airlines (Foto: Simon MAINA / AFP)

Em outubro, 189 pessoas morreram em outro acidente de um 737 MAX 8 no mar da Indonésia.

O 737 MAX é uma resposta ao A320 NEO da Airbus, que permitiu à companhia europeia superar a Boeing nos voos de média distância.

Esse modelo tem quatro versões (MAX 7, MAX 8, MAX 9 e MAX 10) que se distinguem pelo número de passageiros que podem transportar. O 737 MAX 8 custa 121,6 milhões de dólares a preço de catálogo.

Em serviço desde maio de 2017, esse aviões representaram, no ano passado, um terço dos ganhos da Boeing.

No final de janeiro, haviam sido encomendados 4.661 exemplares de 737 MAX 8, ou seja, cerca de 80% dos pedidos de aviões comerciais da companhia.

A empresa, que produz 52 aviões desse modelo por mês, pretendia elevar esse número para 57 este ano.

Esse aumento da produção é uma das ambições da Boeing, que quer entregar, em 2019, entre 895 e 905 aparelhos - um recorde.

"É, sem dúvida, o programa mais importante para a Boeing e seus fornecedores", afirma Ken Herbert, analista na Canaccord.

O acidente levou muitos países e companhias aéreas a imobilizarem grande parte dos 350 Boeing 737 MAX 8 em serviço.

Os Estados Unidos continuam sendo um dos poucos grandes países que mantêm sua confiança nesse aparelho. Ainda assim, a Agência Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês), um dos principais reguladores do transporte aéreo americano, pediu à Boeing que modifique o sistema de estabilização "MCAS".

Não houve nenhum cancelamento oficial de pedido até o momento, mas informações na imprensa indicam que a companhia Lion Air, que protagonizou o acidente no mar da Indonésia, quer substituir seus 737 MAX 8 por Airbus.

"A Boeing pode continuar trabalhando com seus clientes sobre os diferentes problemas potenciais que afetam o 737 MAX 8", diz Richard Aboulafia, especialista da consultoria Teal Group.

A ação da Boeing caiu mais de 11% em Wall Street desde o acidente, ou seja, cerca de US$ 27 bilhões de dólares em capitalização na Bolsa.

É difícil calcular o impacto financeiro por enquanto, mas os especialistas vislumbram diferentes cenários.

Caso fique demonstrado que os dois acidentes sofridos pelo 737 MAX 8 têm uma causa idêntica, as consequências econômicas podem ser mínimas, já que a Boeing teria apenas de modificar o sistema de estabilização e atualizar o manual de voo.

A fatura total seria de menos de 1 bilhão de dólares, já que o custo da mudança ficaria em torno de dois milhões por aparelho, calcula Ken Herbert.

Se a causa dos dois acidentes for distinta, o custo será muito mais alto. Obrigará a uma longa imobilização do avião, assim como fazer consertos caros e pagar importantes indenizações, considera Aboulafia.

Esta última possibilidade seria um obstáculo para a Boeing e sua meta de produzir 57 aparelhos por mês até junho e pode provocar tensões com as companhias, que se veriam obrigadas a encontrar aviões de substituição.

A imagem da Boeing, que celebrou seu centenário em 2016, ficou arranhada neste caso, disse Ken Herbert, já que o acidente gera dúvidas sobre seus aviões.

A companhia, que também fabrica aviões de caça, aviões-tanque e o Air Force One, o modelo que transporta o presidente dos Estados Unidos, é um emblema industrial americano.

Além da Boeing e de seus 150.000 funcionários, muitos fornecedores diretos e indiretos do 737 MAX 8 se verão, provavelmente, afetados pela crise.

Pode-se citar empresas como a americana General Electric (GE) e a francesa Safran, cuja filial conjunta CFM fabrica o motor LEAP do avião, e as companhias americanas United Technologies (sensores) e Spirit AeroSystems (fuselagem).

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