São Paulo - A Ford anunciou ontem que vai encerrar a operação da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Com a decisão, a montadora deixa de atuar no segmento de caminhões, onde era a quarta em produção, com 950 unidades em janeiro, segundo dados da associação das montadoras, a Anfavea. O mercado é liderado pela Mercedes Benz, que produziu 2.084 unidades, sobretudo pesados e superpesados, seguido pela MAN (grupo Volkswagen), com 1.669 unidades e a Scania, que fabricou 953 caminhões entre pesados e superpesados. A também sueca, Volvo, que controla a Scania, vem a seguir com 734 caminhões.
A Ford mantém a fábrica de veículos totalmente automatizada em Camaçari, junto ao porto de Aratu, na Bahia, inaugurada em 2001, onde poderá vir a produzir caminhões. E chassis para ônibus, segmento onde não atua no Brasil, mercado que produziu 1.583 unidades em janeiro e é dominado por mais de 50% pela Mercedes-Benz, seguido pela MAN (454) e pela gaúcha Agrale (258 unidades), também pelos dados da Anfavea.
Segundo nota da Ford, o fim da operação representa "um importante marco para o retorno à lucratividade sustentável de suas operações na América do Sul". A empresa explicou que a decisão de deixar o mercado de caminhões foi tomada após vários meses de busca por alternativas, que incluíram a possibilidade de parcerias e venda da operação. "A manutenção do negócio teria exigido um volume expressivo de investimentos para atender às necessidades do mercado e aos crescentes custos com itens regulatórios sem, no entanto, apresentar um caminho viável para um negócio lucrativo e sustentável", afirma a nota. Na época em que a empresa fechou a produção de automóveis em São Bernardo, em 2001, no final do governo FHC, os metalúrgicos protestaram, mas foi a moderna fábrica da Bahia, junto ao porto que facilitou o retorno da competitividade à Ford no segmento de automóveis.
"Sabemos que essa decisão terá um impacto significativo sobre os nossos funcionários de São Bernardo do Campo e, por isso, trabalharemos com todos os nossos parceiros nos próximos passos", disse o presidente da montadora para a América do Sul, Lily Watters, no comunicado.
O mercado de caminhões entrou em franca retração no Brasil sendo fortemente afetado pela recessão de 2015 e 2016. Em 2014 foram produzidas 139,7 mil unidades. Em 2017 o número tinha caído para 83 mil veículos de carga. Já em 2018 houve reação para 105,5 mil unidades. Mas o mercado ainda está 24% abaixo de 2014. E a queda atingiu mais a Ford. Há dois anos, a Mercedes também cogitou de fechar a produção de caminhões pesados no Brasil para concentrar a produção na Turquia, país que atenderia a Ásia e a Europa. Mas o mercado reagiu a os planos foram deixados de lado.
Segundo a Ford, o fim da fábrica de São Bernardo se junta a outras iniciativas recentes que fazem parte da reestruturação em andamento na América do Sul, como redução em mais de 20% dos custos referentes ao quadro de funcionários e à estrutura administrativa em toda a região.
O encerramento das atividades da unidade representa a demissão de 2,8 mil trabalhadores, segundo estimativa do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. (Com Estadão Conteúdo)