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Expansão do mexilhão-dourado, em água de lastro de navios, pode ser interrompida em 25 anos

biologiatotal.com.br -
A tese dominante diz que a porta de entrada foi o Rio da Prata e, a partir daí, a espécie teria subido bacias rumo ao centro do país
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A ameaça do mexilhão-dourado ao meio ambiente e à economia do país, levou o governo a publicar, no Diário Oficial da União (DOU) de ontem, o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento da espécie no Brasil. Assinada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), a portaria estabelece ações de prevenção, controle e monitoramento do molusco invasor.

Originário da Ásia, o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) não tem predadores no Brasil. O molusco chegou às águas brasileiras de maneira acidental por volta de 1998 em água de lastro descartada de navios chineses, que intensificaram o fluxo para a América Latina. A tese dominante entre pesquisadores diz que a porta de entrada foi o Rio da Prata e, a partir daí, a espécie teria subido bacias rumo ao centro do país, alcançando partes do rio São Francisco nos últimos anos. Outra diz que o animal foi introduzido diretamente no Lago Guaíba, no Rio Grande do Sul, onde apareceu pela primeira vez.

Seja como for, esse mexilhão vem invadindo áreas ainda não completamente dominadas por espécies locais e, o mais grave do ponto de vista econômico, entupindo tubulações de estações de tratamento de água e turbinas hidrelétricas, o que gera prejuízos ao país.

Considerando o horizonte temporal de cinco anos, o Plano Mexilhão-dourado tem como objetivo geral “prevenir a dispersão do mexilhão-dourado em áreas não invadidas, bem como conter e controlar as populações nas áreas invadidas”. Já dentro de 25 anos, o objetivo do Plano é a “manutenção das bacias não invadidas sem a presença do mexilhão-dourado, com prioridade para as regiões hidrográficas Amazônica e Tocantins Araguaia, e as bacias invadidas com populações controladas e contidas”.

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A tese dominante diz que a porta de entrada foi o Rio da Prata e, a partir daí, a espécie teria subido bacias rumo ao centro do país (Foto: biologiatotal.com.br)

O risco da água de lastro

Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), há cerca de 104 mil navios comerciais em atividade no mundo e a frota só aumenta. Por serem navios de carga, cujo peso varia muito, todos carregam a chamada água de lastro, usada para equilibrar a embarcação em alto-mar. Essa água, no entanto, vem de uma determinada região e é liberada noutra, junto com milhares de organismos estranhos ao ecossistema da chegada. Estima-se que o transporte de água de lastro movimente mais de 7 mil espécies a cada dia em torno do globo.

A frota, embora, diversificada com relação às bandeiras de países, tem propriedade muito concentrada. Assim, embora o Panamá tenha a maior parte dos navios em seu nome, 49,7% da tonelagem mundial está nas mãos de empresas de 4 países: Alemanha, Japão, China e Grécia. Apesar dos planos de contingência do Brasil, o avanço de frotas orientais sem vigilância ambiental significa, em certa medida, a garantia de circulação do mexilhão-dourado e suas larvas. 

O caso de Itaipu Binacional

Na usina hidrelétrica de Itaipu Binacional, na fronteira com o Paraguai, o mexilhão-dourado afeta a rotina de manutenção das turbinas onde se instala, pois força a redução do intervalo entre as paradas para manutenção, antecipando os custos do não funcionamento, estimados em quase US$ 1 milhão a cada dia de paralisação do sistema. Além disso, o molusco é responsável pelo entupimento de encanamentos em equipamentos da hidrelétrica, e causa desequilíbrios ambientais.

Nos 17 anos posteriores a detecção e início da dispersão da espécie nos reservatórios, teve início um monitoramento sistemático da espécie. Nos anos seguintes, foram realizados testes em escala experimental de medidas de controle químicas e físicas da espécie.

Também houve adaptações em filtros e tubulações dos sistemas de resfriamento das unidades geradoras, com o objetivo de reduzir as incrustações do molusco vivo e obstrução dos equipamentos por organismos mortos, além do aumento da vazão buscando velocidades capazes de inibir o desenvolvimento do animal. Hoje, de acordo com a administração da usina a população de mexilhões-dourados é estável.

Com Estadão Conteúdo