Qualquer movimento de uma empresa que dure mais de 30 anos, neste mundo tão instável no mercado de consumo, chama a atenção geral. É o caso da Richards, prestes a completar 45 anos de atividade, sem perder o conceito de moda masculina urbana e ao mesmo tempo casual, inspirado no estilo de vida ao ar livre, típico do carioca.
Ricardo Ferreira, criador da marca, de vez em quando sai do circuito da criação e produção, diz que quer curtir a vida de pescarias e férias. Mas são escapadas rápidas, porque logo é convocado a voltar e redefinir o jeito Richards.
Agora uma notícia parece uma ameaça justamente a este estilo de moda: a sede administrativa sai da rua São Miguel, na Tijuca, e deve se instalar em São Paulo. A mudança pode ser coerente com o fato de a Richards integrar o grupo da Inbrands, que integra também a Salinas, Bobstore, VR, Mandi e tem a liderança da Ellus e da Second Floor.
A sensação de ameaça vem justamente da hipótese da marca masculina carioca de maior prestígio nacional perder sua identidade, virar a roupa paulistana, sóbria e executiva. Não seria a primeira vez que aconteceria: Isabela Capeto, Alexandre Herchcovitch, Marcelo Sommer são alguns profissionais que se deram mal quando deixaram de ser independentes.
Não deve ser o caso da Richards, marca estável, com coleções atemporais e uma respeitável rede de mais de 80 lojas, entre próprias e franquias. Há muito tempo a produção é internacional e parte do branding já sai da Inbrands. Esta saída da rua São Miguel deve significar outro tipo de mudança: para garantir o jeito carioca da Richards, Ricardo Ferreira terá que frequentar mais a Ponte Aérea.
* Jornalista especializada em moda, design e life style, ex-Editora de Moda da revista Domingo, do JORNAL DO BRASIL, viu a Richards surgir em 1974.