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Na 9ª edição da Black Friday, poder público e sociedade civil se unem contra propaganda enganosa

Comércio eletrônico brasileiro deve faturar mais de R$ 2,4 bilhões, segundo a consultoria Nielsen, alta de 15% com relação ao registrado em 2017

agência brasil -
Consumidores aproveitam as promoções nesta sexta-feira (23)
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A Black Friday brasileira, que ganha o varejo hoje, oferece historicamente boas oportunidades ao consumidor. Na 9ª edição do evento, o comércio eletrônico brasileiro deve faturar mais de R$ 2,4 bilhões, segundo a consultoria Nielsen, uma alta de 15% com relação ao registrado em 2017. Apesar disso, as redes têm boas razões para se preocupar: a desconfiança com propagandas enganosas — na maioria das vezes descontos em cima de preços aumentados na véspera — levou o poder público e a sociedade civil a montarem uma série de esquemas de vigilância, que vão de batidas dos Procons a aplicativos de verificação de preços e listas de reclamações.

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Consumidores aproveitam as promoções nesta sexta-feira (23) (Foto: agência brasil )

O Procon do Rio de Janeiro informou que fiscalizará estabelecimentos com o fim de coibir publicidade enganosa. De acordo com o presidente do órgão, Jorge Braz, os fiscais já coletaram amostras de alguns produtos dois meses atrás afim de comparar os preços praticados na Black Friday. “O monitoramento é feito para verificar se as ofertas têm realmente o desconto anunciado ou se o comerciante aumentou o preço para baixar depois, ludibriando o consumidor”, explica Braz. Além disso, a autarquia divulgou uma lista com 17 recomendações aos consumidores. Entre elas, o fato de uma compra realizada em liquidação ou envolvendo produto de mostruário não comprometer os direitos previstos no Código de Defesa do Consumidor. Outra incentiva o cliente a desconfiar de preços muito abaixo do mercado, “forte indício de fraude”.

Iniciativas mais profiláticas, como as recomendações, dividem espaço com investidas mais efetivas. Uma delas são extensões de internet que comparam os preços de uma mesma loja em um determinado espaço de tempo ou os valores praticados por diferentes revendedores. O site “Proteste” criou a ferramenta “Mais Barato Proteste” que compara as ações de 30 estabelecimentos ao mesmo tempo e cria alertas enviados por e-mail. Já o “Reclame Aqui”, além do conhecido ranking de reclamações, criou uma série de listas em tempo real para acompanhar o evento. Às 20h40 de ontem, com boa parte das ofertas já lançadas na pré-Black Friday, a maior parte das mais de mil queixas realizadas no site estava ligada à propaganda enganosa (20,1%). Em seguida, vinham “divergência de valores” (9,8%) e “problemas na finalização da compra” (9,3%). Regionalmente, São Paulo concentrava 40% dos relatos. Minas Gerais e Rio de Janeiro vinham logo depois, com 11% dos relatos cada. Os itens mais problemáticos eram televisores e smartphones. Ainda que cedo, a pré-Black Friday é uma boa prévia do que vem por aí. Em 2017, o reclame aqui recebeu 3,5 mil reclamações, 20,6% a mais do que em 2016. O auge das reclamações relacionadas ao evento aconteceu em 2014, quando foram realizados 12 mil registros.

Muito mais presente no e-commerce do que em lojas físicas, o evento também acaba estimulando o consumo desenfreado na internet, o que também deve inspirar cuidados segundo o Procon. Segundo a lista de recomendações, os sites de compra devem expor dados como razão social, CNPJ, endereço, telefone fixo e outras formas de contato. Além disso, deve ser priorizado o uso de computadores pessoais para evitar a ação de hackers. Não é para menos. Um estudo feito pela CNDL e pelo SPC estima que 7,8 milhões de brasileiros foram vítimas de fraude nos últimos 12 meses. Os dados mostram que a maior parte das ocorrências (41%) está ligada à clonagem de cartões de crédito.

Cultura do descarte

Na Alemanha, a política das empresas de comércio digital de facilitar as devoluções gera um enorme volume de produtos não vendidos, que às vezes vão parar na trituradora, especialmente em períodos de grandes promoções como a Black Friday.

“Quanto mais se pede, mais se devolve (...) Cada pacote tem um impacto sobre o clima”, denuncia na Alemanha a ONG ambientalista Greenpeace, criticando o comportamento de consumo impulsivo, especialmente entre os jovens.

Um quarto dos pacotes adquiridos por alemães com menos de 30 anos é devolvido, segundo uma pesquisa do Greenpeace. Metade desses jovens consumidores sabem, na hora da compra, que devolverão parte de suas encomendas.

Em alguns casos, a Amazon, gigante do setor varejista, considera ser mais barato destruir diretamente os produtos devolvidos do que reacomodá-los em seus estoques, ou conferir seu estado.

Cerca de 30% dos artigos devolvidos por clientes da Amazon na Alemanha vão parar no lixo, revelou, em junho, uma pesquisa da emissora pública alemã (ZDF) e da revista econômica WirtschaftWoche. A gigante americana respondeu em um comunicado afirmando “trabalhar continuamente” para minimizar o número de artigos não vendidos e citou seus circuitos de uso de segunda mão e doações.