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JB no campo: Exportação de laticínios, produtividade e democracia

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Temos escrito nos últimos meses sobre nossas ideias quanto à necessidade de exportarmos derivados de leite. Milhares de pessoas assinaram um formulário simples reivindicando que o Brasil tenha um organização governamental para trabalhar, com foco, nessa missão que poderá ajudar milhões de pessoas que sofrem com as variações e instabilidade de preços pagos aos produtores.

É claro que a exportação se dará a médio prazo, pois sequer conhecemos os mercados. Nunca tivemos uma força tarefa para enfrentar essa importante missão econômica e social com inteligência, empenho, tenacidade. É também claro que quem fará exportação serão empresas privadas, laticínios, cooperativas etc.

A instância governamental, no entanto, é fundamental para mediar o enfrentamento de dificuldades nas questões de protocolos sanitários, de classificação de fazendas aptas à exportação, na simplificação de procedimentos aduaneiros, na mobilização de diplomatas quando necessário, na atuação articulada sobre questões tributárias. E em dezenas de outras questões próprias de governos, que são intransferíveis para a esfera privada.

Os interessados em exportar surgirão naturalmente, pois é inexorável o crescimento da nossa produção. Temos grãos, temos terras e temos o gado para todos os diversos climas e ecossistemas. Até pouco tempo não tínhamos girolando rústico e produtivo para o ambiente tropical. Graças ao melhoramento do Gir Leiteiro, nosso Girolando é agora o melhor gado leiteiro para o mundo tropical de todo o planeta. O reconhecimento é internacional.

A produtividade de nosso gado pode chegar a mais produtores se houver política pública valorizando a qualidade dos cruzamentos. A maior contribuição que podemos dar para o combate à fome no mundo. Claro que imaginamos que uma organização focada para exportação de leite vai provocar uma nova concepção de fomento para os produtores. Mais de um milhão de produtores.

Todos, em nome da democracia, têm direito a ter um gado rústico melhor... Sem gado melhor, não há chance de produtividade para todos. Distribuir oportunidades de aumento da produtividade é fundamental para a democracia.

Ou vamos estimular a concentração, dizimando milhões de empregos, levando mais gente para a área urbana? Sem emprego, à deriva, prato cheio para a violência.

Vamos repetir, produtividade tem que ser aumentada em todos os níveis da sociedade ou não é Democracia... Produtividade aumentada apenas para quem tem volume e genética é garantia de concentração de renda, de agravamento da má distribuição de renda. Democracia pede recursos para aumento da produtividade acessível a todos.

Leite em países avançados é questão de Estado. Não é essa coisa largada, depreciada, como o que temos no Brasil. É uma mercadoria que não pode provocar inflação. Não pode subir preço no varejo embora isso não queira dizer ter correspondente aumento de preços para o produtor.

Leite no Brasil é o único produto em que o pequeno e o médio produtor só ficam sabendo o preço pelo qual vendeu mais de um mês depois de ter fornecido o produto... É claro que não temos vontade política nesse momento para termos uma política maior para o leite.

Se políticos com mandato ou nos futuros governos não se comprometerem com essa medida prática de se instalar uma organização de fomento para exportação (ampliando a demanda, pois a produção virá...) vamos ficar na mesma: muitos abandonando a atividade, gado bom e caro para poucos, pouca atenção para o social.

Podemos melhorar: ter uma nova maneira de encarar a produção desse alimento capaz de ajudar como nada a combater a fome no mundo. O nome desse herói pode se chamar Brasil. Você conhece algum político que tenha essa percepção? Pode melhorar nosso texto acrescentando outras demandas. Será ótimo. Temos direito de exigir algo construtivo e factível dos políticos.

Ou mais uma vez, vamos ficar calados?

N.R. Excepcionalmente a coluna, dominical, está sendo publicada neste sábado.