ASSINE
search button

Chineses vão alavancar Comperj

Investidora, estatal chinesa ficará com 20% do complexo e dos campos de Marlim; Petrobras terá 80% e a operação

Divulgação -
O projeto do Comperj incluía duas refinarias e vasto complexo petroquímico; anos depois, minguou para uma refinaria e um processador de gás
Compartilhar

A reativação das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, é tudo que o próximo governador quer para um início de mandato. Geração de empregos, atração de investimentos e aumento da arrecadação a médio prazo podem estar logo ali. Isso porque a Petrobras informou, ontem, por meio de fato relevante, a assinatura de um acordo com a CNODC, subsidiária da CNPC, petroleira estatal da China para a realização de “estudos de viabilidade, avaliação técnica do estado atual do Comperj, planejamento do escopo e investimentos necessários para conclusão da refinaria”, de 165 mil barris/dia.. O compromisso é a 2ª fase da parceria estratégica anunciada no início de julho.

Segundo a Petrobras, “os estudos serão conduzidos por um time de especialistas de ambas as empresas e consultores externos”. Em uma terceira fase, com os custos e benefícios do negócio já levantados, será formada uma joint venture diretamente responsável pela conclusão do projeto e pela operação da refinaria. A Petrobras deve ficar com 80% do projeto e os chineses com os 20% restantes.

Macaque in the trees
O projeto do Comperj incluía duas refinarias e vasto complexo petroquímico; dez anos depois, minguou para uma refinaria e um processador de gás (Foto: Divulgação)

Mas o negócio vai além do Comperj. Define as mesmas participações para uma etapa anterior da cadeira de petróleo e gás: a produção de óleo cru nos campos de Marlim (Marlim, Voador, Marlim Sul e Marlim Leste). Além de 80% do negócio, a operação também ficaria a cargo da Petrobras. O negócio é oportuno porque o óleo de Marlim é adequado ao processamento na refinaria do Comperj, projetada para óleos pesados e com alta taxa de conversão em derivados.

O setor de petróleo e gás é prioritário na relação entre China e Brasil. Desde 2013, a Petrobras e a CNPC integram o consórcio de Libra, o primeiro campo do pré-sal a ser leiloado sob o regime de partilha, ainda em 2013. Depois, em 2017, o consórcio formado pela Petrobras (40%), a CNPC (20%) e a britânica BP (40%) arrematou Peroba, na Bacia de Santos. Segundo a proposta vencedora, a União ficou com 75% do óleo-lucro, negócio festejado mesmo por analistas mais céticos à entrada de estrangeiros no Pré-Sal.

Desde meados de 2015, ainda sob a presidência de Aldemir Bendine, a Petrobras iniciou um acelerado pleno de venda de negócios ligados a distribuição e produção de derivados. A parceria com os chineses, criticada por Jair Bolsonaro, é, portanto, um ponto fora da curva na atual política da empresa. Estratégico, é parte da revitalização de seu parque de refino e logística do Leste. No tocante à produção do cluster de Marlim, a ideia é aperfeiçoar os resultados, já considerados maduros.

Macaque in the trees
Marlim (Foto: Reprodução)

Uma década de espera

A Petrobras iniciou as obras de terraplanagem do complexo ainda em março de 2008, com o intuito de ativá-lo seis anos depois, em 2014. A entrega foi sistematicamente postergada e, no final de 2015, a obra, tocada pelo consórcio QGIT — Queiroz Galvão, Iesa Óleo &Gás (investigadas pela Lava Jato) e Tecna — foi paralisada, o que resultou na demissão de 800 trabalhadores e o desmonte da economia local. As empresas atribuíram a suspensão das obras aos “insustentáveis impactos sobre o contrato, decorrentes da crise econômica e seus efeitos no câmbio”, mas a descoberta de casos de corrupção e a inesperada desvalorização do barril de petróleo obrigaram a Petrobras e seu principal fiador, a União, recuarem de suas ambições.

No projeto inicial, além de duas refinarias, estavam previstas uma unidade de petroquímicos básicos (eteno, benzeno, p-xileno e propeno) e seis unidades de petroquímicos de segunda geração (polipropileno, polietileno e politereftalato de etileno). Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado no fim do ano passado, houve prejuízo de US$ 12,5 bilhões na construção do Comperj.

O fato é que, dez anos depois de início das obras, a Petrobras foca a construção da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), que processará 21 milhões de Nm3/d de gás do pré-sal da Bacia de Santos e deve ser entregue em 2020, e a Refinaria Trem 1 , prevista para os anos seguintes. A chegada dos chineses e sua tradição de respeito aos prazos, pode, finalmente, ajudar no “parto”.

Reprodução - Marlim
Tags:

Chine | Comperj | economia | obra