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CCBB apresenta, a partir de hoje, mostra com filmes de horror onde criaturas são as protagonistas

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Olhado com certo desprezo pela crítica de cinema, o gênero do terror é um dos que mais agrada e alcança os mais diferentes públicos. Quem nunca ficou sem dormir com medo de Freddy Krueger? Enojado com as gosmas em “A mosca”? Com pena do Frankestein ou do King Kong? Seduzido por algum Drácula? Encantado com os personagens de Tim Burton? Essas e outras criaturas estarão nas telas dos cinemas 1 e 2 do Centro Cultural Banco do Brasil, a partir de hoje, na mostra “Monstros no cinema”. São 39 longas que dão um panorama do gênero desde os primórdios da sétima arte: tem de “O Golem, como ele veio ao mundo” (1920) a “A forma da água” (2017). 

“Foi difícil chegar aos 39 títulos e muitos filmes interessantes acabaram ficando de fora. Minha proposta de curadoria foi a de oferecer ao público um panorama dos mais importantes ou significativos, onde os monstros são protagonistas ou responsáveis de alguma forma pelo desenvolvimento das tramas. Quem participar da mostra, terá uma ideia de como o cinema usou e abusou dos monstros em mais de 120 anos de história”, diz o curador Breno Lira Gomes. 

Stephen King, mestre do horror na literatura, afirma que “o horror nos atrai porque nos possibilita experimentar emoções que a sociedade nos obriga a manter sob controle”. No cinema, não é diferente. Só que cada um faz a imersão de um jeito: há os que assistem e se divertem; os que têm prazer em ficar amendrontados; os que não se conformam com os vacilos das vítimas; e os que têm pavor, mas são estranhamente atraídos e assistem pelas frestas dos dedos que tentam tampar os olhos. “A mostra terá duas mesas de debates - hoje, às 19h, e dia 3/9, às 19h15 -, onde a proposta é debater com o público a relação de amor entre cinema e monstros e porque se produz tantos filmes desse tipo. E também falar da origem dos monstros, de suas histórias, o que ainda inspira roteiristas no mundo todo a escrever sobre as criaturas”, avisa Breno. 

A mostra ainda inclui master class dia 1/9 com a pesquisadora Rita Ribeiro, que dará um panorama dos monstros nas histórias de terror, e uma oficina de caracterização dias 24 e 25. Todas as atividades são gratuitas (a oficina tem inscrição a partir do dia 20 pelo email [email protected]).

A mostra “Monstros no cinema” é dividida em blocos temáticos, com filmes que dialogam entre si de alguma forma para, segundo o curador, dar um panorama geral, mostrando como o personagem do monstro foi mudando no cinema com o passar dos anos. “Temos o grupo dos monstros gigantes, onde se reúnem King Kong e Godzilla, por exemplo. Em monstros clássicos, temos as produções dos estúdios Universal, que popularizaram personagens como Drácula, Frankenstein, Múmia e são, até hoje, uma referência para filmes deste tipo. A proposta da curadoria não é apenas a de reunir essas criaturas, mas  também mostrar ao espectador como esses filmes, muitas vezes menosprezados pela crítica e pela própria indústria cinematográfica, têm uma grande importância, pois contribuíram e contribuem bastante para avanços na linguagem cinematográfica e tecnológica”, destaca Breno.

Produção nacional

Na programação, há apenas um filme nacional, “Mar negro” (2014), de Rodrigo Aragão que, inclusive, tem classificação de 18 anos, tal qual “Um lobisomem americano em Londres”, “Sexta-feira 13” e “A lenda do cavaleiro sem cabeça”. As sessões serão no dia 24, às 17h, e dia 30, às 19h. “Rodrigo Aragão é um cineasta que consegue realizar filmes interessantíssimos com poucos recursos e, principalmente, com equipe e atores de sua cidade, Guarapari, no Espírito Santo. Seus filmes são a prova de que quem quer, vai e faz. ‘Mar negro’ é um de seus últimos trabalhos, e, mais uma vez, ele usa zumbis como fez em seu primeiro longa ‘Mangue negro’. Além deles, também tem o Baiacu-sereira e uma baleia monstruosa. O bacana desses filmes e de seus outros, é que ele se inspira nos ‘causos’, na cultura popular e lendas para criar suas histórias e criaturas. Arrisco dizer que, desde José Mojica Marins, nunca houve um cineasta tão corajoso, criativo e inspirado na cultura brasileira”, elogia.

Falando em José Mojica, o curador acha que, com  “À meia noite levarei sua alma” (dia 30, às 17h), ele criou, em 1964, aquele que talvez seja o maior monstro do cinema brasileiro: o Zé do Caixão. “O sujeito excêntrico, coveiro em uma cidade do interior, que à princípio não tem nada assustador. Mas suas atitudes acabam revelando uma pessoa monstruosa”, lembra. 

O cinema de gênero no Brasil não se restringe somente a Mojica. Outros cineastas se arriscaram e produziram filmes com lobisomens, vampiros, e até múmias. “Mais recentemente, ‘As boas maneiras’, de Juliana Rojas e Marco Dutra, tinha como protagonista um menino lobo. O lobisomem, aliás, é figura frequente em produções brasileiras, como  ‘Quem tem medo de lobisomem?’, de Reginaldo Faria, e ‘O lobisomem’, de Elyseu Visconti Cavalleiro. Ivan Cardoso fez história com seus ‘terrirs’: ‘O segredo da múmia’, ‘As sete vampiras’”, cita. 

O curador ressalta que, atualmente, há uma leva de filmes fantásticos e de terror sendo produzidos no Brasil. “Muitos deles fazem que nem o Rodrigo, contam histórias com a nossa cultura popular como referência. É preciso acabar com o preconceito que este tipo de filme não dá certo por aqui, ou que isso tem nada de ‘brasileiro’”, afirma. 

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Curiosidades monstruosas

O curador Breno Lira Gomes destaca curiosidades de alguns dos filmes da mostra “Monstros no CCBB:

“O médico e o monstro” (EUA/1931), de Rouben Mamoulian - As notáveis cenas de transformação de Jekyll em Hyde foram realizadas através de uma série de filtros coloridos na câmera. A maquiagem de Fredric March e a maneira como sua aparência era registrada dependia de qual filtro estivesse em cena. Durante a primeira transformação, os ruídos em cena incluíam trechos de Bach, um gongo tocado ao contrário e, supostamente, uma gravação do próprio coração do diretor. Dia 17, às 19h. 

“Um lobisomem americano em Londres” (EUA/Reino Unido/1983), de John Landis. Michael Jackson ligou para Landis e declarou-se um grande fã do longa e, particularmente, do trabalho do maquiador Rick Baker. Por conta disso, em 1983, Landis dirigiu o videoclipe  “Thriller”, com Baker encarregado da maquiagem. O astro teria dito: “Eu quero me transformar num monstro”.  Dia 18, às 19h. 

“King Kong” (EUA/1933), de Merian Caldwell. O filme inspirou a franquia japonesa de Godzilla. Quebrou todos os recordes de bilheteria, arrecadando 1,75 milhões de dólares na época, o que permitiu ao produtor da RKO evitar a falência. Dia 19, às 14h. 

“Godzilla” (JAP/1954), de Ishirô Honda. Seu nome original, Gojira, era o apelido de um trabalhador durão do TohoStudios. A mistura da palavra inglesa gorilla e da japonesa kujira (que significa baleia) tornou-se ‘Godzilla’. Dia 19, às 18h.  

“Gremlins” (EUA/1984), de Joe Dante. Para não se tornar um horror para adultos, a equipe do diretor descartou algumas cenas como a da decapitação da mãe de Billy; um cãozinho devorado pelos monstrengos; e de um grupo de clientes sendo massacrados numa rede de fast-food. Dia 23, às 14h30 e 7/9, às 19h.  

“A hora do pesadelo” (EUA/1986), de Wes Craven. Mais de 500 galões de sangue cenográfico foram usados na realização do filme. A maior parte provavelmente na cena da morte épica de Johnny Depp. Dia 24, às 19h.

“A noiva de Frankenstein” (EUA/1935), de James Whale. O cabelo incomum de Elsa Lanchester não era uma peruca, era seu cabelo real, com uma gaiola por baixo e apliques de mechas grisalhos. Dia 25, às 19h e 2/9, às 16h.  

“A forma da água” (EUA/2017), de Guillermo Del Toro, o grande vencedor do Oscar. Levou três horas para Doug Jones entrar na pele e na maquiagem que o transforma no Homem Anfíbio. Aliás, Jones especializou-se em monstros na filmografia de Del Toro: o Homem Pálido em “Labirinto do fauno” e Abe Sapien nos filmes de “Hellboy”. Jones disse ter estudado a maneira como os cães respondem com suas cabeças e corpos aos nossos tons vocais, criando a linguagem corporal sedutora e fluida do monstro.” Dia 31, às 14h30 e 8/9, às 19h. 

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Serviço

MonStros no cinema - CCBB (R. Primeiro de Março, 66 - Centro; Tel.: 3808-2020). Entrada franca. Até 10/9. Ver programação completa no site: www.bb.com.br/cultura