ASSINE
search button

EM QUESTÃO: críticos de cinema divergem sobre o filme “A festa”

Compartilhar

Dois críticos de cinema fazem suas análises para o filme "A festa", de Sally Potter, e registram pareceres distintos. Confira a seguir: 

Intolerância é penetra (Muito Bom ****) - Realizadora do inquietante “Orlando, a mulher imortal” (1992), a inglesa Sally Potter potencializa sua trajetória (por vezes torta) quando gasta tempo depurando imagem, quadro e ritmo de cortes. Há filmes, ruins, em que ela só afina os diálogos e engessa o plano. Não é o caso de “A festa”. Azia moral anunciada, “The party”, comédia que disputou o Urso de Ouro de Berlim em 2017, é o trabalho de maior vigor narrativo dela desde os anos 1990. 

Pequenina na duração (são só 71 minutos), esta produção de um refinado preto e branco (a fotografia é de Aleksei Rodionov) é precisa em seus alvos políticos, ao mirar na hipocrisia europeia. Ambientado em alguns cômodos de uma casa de luxo, a trama acompanha as confusões que se instauram durante uma ceia oferecida pela nova ministra da Saúde do Reino Unido, Janet (Kristin Scott Thomas).  

A ceia é servida no momento em que seu marido, o professor Bill (Timothy Spall, genial), faz duas  revelações bombásticas aos convidados. Estão no evento: um casal de lésbicas (Cherry Jones e Emily Mortimer); um investidor “drogadito”, Tom (Cillian Murphy); a melhor amiga de Janet, April (Patricia Clarkson, cheia de falas ferozes) e seu namorado germânico, o espiritualista Gottfried, vivido pelo mito alemão Bruno Ganz. Ele nos dão um ensaio sobre aparências. (R.F.)

A era do ?lme-textão (Ruim *) - Em tempos de sociedade polarizada, algo como ‘A festa’ tem seu espaço e encontra eco. O filme de Sally Potter é um manancial de temas explosivos e contemporâneos, e infelizmente parte da crítica hoje vive mais de palestras sociológicas, esquecendo o Cinema, que deveria ser a base de qualquer debate crítico. 

‘A festa’ é o ‘filme-textão’, onde sete personagens esperam por uma recepção que não acontecerá. No lugar delas, farpas e provocações até chegar em brigas propriamente ditas, sobre o poder da mulher, a falência do casamento, os direitos LGBTQ+, a direita e a esquerda política... “Olha, Sally... faltou a pauta racial”, é a primeira coisa que passa pela cabeça num hipotético diálogo com a diretora. 

Personagens bem construídas que não somam a trama para além de desfilar discursos, um casal lésbico sem qualquer função, o desperdício de Bruno Ganz ouvindo ‘Cala a boca!’ de Patricia Clarkson a qualquer mínima intervenção - Patricia essa que é o raio de sol único do filme - e uma mise-en-scène que acha que realizar em PB é tentar uma disruptura com a linguagem teatral e basta, são a pá de cal de um projeto muito equivocado. (F.C.)

__________

Cotaçõeso Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom

____________