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Vida e carreira de Elizeth Cardoso são tema de musical que estreia na Maison de France

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Adjetivos não faltam para classificar Elizeth Cardoso. Divina ou enluarada, como ficou conhecida vêm enfileirados por elegante, talentosa, autêntica, generosa e muito mais. A cantora, morta em 1990, ganha, a partir de hoje, um musical em sua homenagem no Teatro Maison de France, no Castelo. “Elizeth, a Divina”, que tem direção de Sueli Guerra e musical de Tony Lucchesi, foi idealizado pela atriz e cantora Izabella Carvalho, que acredita ter encontrado o momento perfeito para falar da intérprete. “Mesmo o espetáculo não tendo um cunho político e tratar disso de forma bem discreta, é muito importante falarmos de uma mulher que era empoderada, quando este termo talvez nem existisse ainda e que reforça esse olhar social e político de Elizeth dentro da história da música brasileira”, destaca a artista.

Com longa experiência em musicais, Izabella conta que a ideia de dedicar um a Elizeth surgiu há três anos em um sonho. “É curioso, mas foi isso mesmo! Sonhei com alguém que falava sobre ela pra mim e fiquei com aquilo na cabeça. Comecei a procurar seus discos, comprei a biografia (‘Elisete Cardoso, uma vida’, de Sérgio Cabral), me apaixonei. Quando percebi o quanto estava mergulhada, resolvi que faria algo”, conta ela. 

Além da biografia, o texto de Cora Carvalho foi montado através de pesquisa no acervo de Elizeth, adquirido pelo Instituto Moreira Salles em 2003, de depoimentos de amigos próximos, como Hermínio Bello de Carvalho, e do neto Paulo César, que conviveu com a cantora da infância até os 15 anos, quando ela morreu em seus braços.

“Do ponto de vista artístico, ela foi uma figura ímpar. Foi a cantora que mais gravou discos no Brasil na época e se reinventava a todo instante: passou pela Era de Ouro do rádio, pelo choro, samba-canção e Bossa Nova, tirou Cartola do anonimato ao gravar o disco ‘Elizeth sobe o morro’ (1965), momento em que saiu das apresentações com as grandes orquestras e voltou às raízes”, detalha a atriz.

Outra prova de pioneirismo na carreira da carioca de São Francisco Xavier é que é dela a primeira gravação, em 1958, do marco da Bossa Nova “Chega de saudade”:“Ela esteve no topo, mas nunca perdeu a humanidade. E, em momentos de dificuldades, soube enfrentar os problemas. Era extremamente generosa, fez muitos shows beneficentes. O deslumbre nunca fez parte de sua vida e sim o encantamento pela capacidade do artista em emocionar”, diz Izabella, comentando que com todos que conversou - amigos e músicos com quem a Divina trabalhou - só ouviu elogios e palavras de saudade.

Izabella Bicalho conta que sua preparação para viver Elizeth no palco aconteceu durante os três anos de produção. “Ela era uma cantora de extensão enorme e uma interpretação muito autêntica. Para mim foi um trabalho transformador, uma grande escola. E eu acho que um dos papéis do artista é trabalhar a memória”, afirma ela, que é acompanhada no palco pelos atores Cilene Guedes, Jefferson Almeida, Dennis Pinheiro, que se revezam em vários personagens. “Jacob do Bandolim, Aracy de Almeida, Antonio Maria, Ciro Monteiro e Hermínio Bello de Carvalho são algumas das personalidades que aparecem no musical, que passa por vários momentos de sua vida, em cenas de shows, da vida doméstica e de memórias no camarim”, enumera.

O musical, que não segue ordem cronológica no panorama histórico de sete décadas, apresenta situações marcantes da vida da cantora, como a gravação de “Canção de amor”, seu primeiro sucesso em 1950, o marcante show de 1968 no Teatro João Caetano com o Jacob do Bandolim, o Zimbo Trio e o conjunto Época de Ouro, sua amizade com Hermínio Bello de Carvalho e seus romances. 

A trilha tem 24 canções, cantadas e tocadas ao vivo pelos músicos Ciro Magnani (piano), David Nascimento (violão e contrabaixo) e André Vercelino (bateria e percussão), como “Barracão de zinco”, “É luxo só”, “Feitiço da Vila”, “Cidade vazia” e “Canção do amor demais”. “Escolhemos grandes sucessos, que ora são apresentadas como se fosse durante um show, ora são enxertadas nas cenas. Em um momento de conversa dela com Hermínio nos bastidores, eu canto ‘Camarim’ e, durante um baile de Carnaval, vem ‘Serenata do adeus’, por exemplo”, explica Izabella que, depois da temporada na Maison de France, já tem duas semanas de apresentações agendadas em outubro no Imperator, no Méier.

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SERVIÇO

Elizeth, a Divina - Idealização de Izabella Bicalho. Texto de Cora Carvalho. Direção de Sueli Guerra e direção musical de Tony Lucchesi. Com Izabella, Cilene Guedes, Jefferson Almeida e Dennis Pinheiro. Teatro Maison de France (Av. Pres. Antônio Carlos, 58 – Centro; Tel: 2544-2533). Qua., às 17h e qui., às 19h. R$ 50 e R$ 25. Até 16/8.