Recém-saído dos sets de “Alexandre”, o novo filme de François Ozon, um drama sobre reencontros e renúncias, Denis Ménochet se consolida, a cada novo longa-metragem como um dos mais potentes atores da França na atualidade, embora tenha iniciado sua fama pelas mãos de Quentin Tarantino.
Foi como Monsieur LaPadite, fazendeiro que escondia judeus dos nazistas em “Bastardos inglórios” (2009), que ele despertou o interesse de cineastas de outras nacionalidades a quem ele emprestou seu talento. Na Inglaterra, Ridley Scott e Stepher Frears convocaram ele para ele atuar: com o diretor de “Blade runner”, fez “Robin Hood”, em 2010; e sob o comando do realizador de “Ligações perigosas”, Denis apareceu em “Programado para vencer”.
Este ano, foi a vez de o polêmico brasileiro José Padilha arrancar dele uma elogiada atuação em “7 dias em Entebbe”, na pele de um piloto da Air France às voltas com terroristas. Porém, foi um estreante que deu a Ménochet seu melhor personagem até hoje: “Custódia”, que entra em cartaz no Brasil nesta quinta, é o primeiro longa rodado por Xavier Legrand, mas deu a ele o Leão de Prata de Melhor Diretor e o troféu de Melhor Primeiro Filme no Festival de Veneza de 2017.
Ali, na história de um casamento despedaçado, o tom desesperado que Ménochet costuma apresentar em cena, no olhar, vem mesclado a uma brutalidade de dar medo. “Tudo o que um ator pode fazer de bom vem do que está nos roteiros. O script deste filme era impressionante. E isso somado a horas de conversa com o diretor faz muita diferença no resultado final. Sobretudo para quem encara o silêncio, na introspecção, como uma forma de escuta”, explica Ménochet, hoje com 41 anos. “O melhor filme da vida de qualquer um é feito das boas memórias que guardamos das trocas que fazemos a cada novo trabalho”.
Laureado ainda com o prêmio do júri popular no Festival de San Sebastián, na Espanha, “Jusqu’à la garde” (título original do longa de Legrand) foi o mais elogiado dos 20 longas trazidos ao Brasil pelo Varilux, nossa maratona anual de filmes franceses inéditos, realizada em junho.
Sua trama narra o processo de enfurecimento de um pai de família, o brucutu Antoine Besson (vivido por Ménochet), depois que sua mulher, Miriam (Léa Drucker), pede a separação. A dificuldade para poder encontrar e se relacionar com seus filhos gera loucura e violência, retratadas numa narrativa sufocante, que extrai tensão de cada um de seus 93 minutos. Ménochet encarna Antoine como se fosse um leão ferido: seu modo de amar é bestial, possessivo.
“Atuar é saber ouvir aquilo que uma cena requer de você com cada parte do seu ser. É preciso que o ator se permita ser afetado pela realidade das circunstâncias narradas pela história que precisa contar. Eu não sou o personagem, não viro o personagem, mas tento sentir a angústia dele”, explica Ménochet, confiando o sucesso do filme à sua parceira de cena, Léa Drucker. “Ela é uma grande amiga e é uma atriz incrível. O talento dela foi essencial na hora de confirmarmos naquele contexto afetivo e embarcar nele. Fora ela, Thomas Gioria, que interpreta Julien, o filho de Antoine, foi o melhor parceiro de cena que eu poderia ter”.
Criado na Inglaterra nos anos 1980, no auge da cultura pop de língua inglesa, Ménochet preservou seu olhar sobre o cinema de seu país, no qual a destaca a diversidade de gêneros como a principal característica. “Tenho o filme do Ozon para estrear agora e ele faz parte de uma cadeia muito especial de longas, na qual a honestidade no modo como um diretor se expressa é tudo”, explica. “A questão de haver autoralidade ou não nos filmes não é problema para o espectador. Ele quer é ver novas histórias”.
*Roteirista e presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ)