O compositor e músico italiano, Ennio Morricone, 87 anos, conquistou o último prêmio que faltava para sua longa e premiada carreira. Na noite deste domingo (26), ele conquistou o Oscar pela trilha sonora do filme "Os Oito Odiados", mais uma de suas parcerias com o diretor norte-americano Quentin Tarantino.
Ao receber a estatueta, o italiano não teve dúvidas a quem agradecer: sua esposa, Maria Travia. "Dediquei o Oscar a minha mulher Maria porque ela teve muita paciência para suportar a minha ausência. Fui muito absorvido pela profissão e a distância da família ocorreu nos anos mais intensos da minha carreira. Não era completamente ausente, isso não, mas perdi alguns momentos da vida dos meus filhos. Mas, minha mulher estava lá, sempre esteve e por isso dedico o Oscar a ela", disse o emocionado maestro.
O Oscar pela trilha sonora finalmente chegou na sexta indicação.
A primeira vez que concorreu ao prêmio foi em 1979, com "Cinzas no Paraíso". Já em 1986, ele concorreu como favorito pelo filme "A Missão", mas perdeu a disputa. Um ano depois, também não levou a estatueta pelo trabalho em "Os Intocáveis". Em 1992, concorreu por "Bugsy" e nove anos depois disputou com o filme "Malenà", do diretor italiano Giuseppe Tornatore.
Mesmo sem ter conquistado a estatueta, Morricone foi homenageado pelo "conjunto da obra" em 2007 e recebeu um prêmio honorário da Academia. Com mais de 450 trilhas sonoras de filmes em sua carreira, o compositor italiano é um dos maiores do seu tempo. De Tarantino, o músico já ouviu diversos elogios que o colocam no hall dos grandes da história. "O maior presente que eu ganhei fazendo esses filmes foi a amizade do maestro Morricone", disse o diretor norte-americano que diz ter mais álbuns de música do italiano do que de Mozart ou Beethoven.
Nascido em Roma no dia 10 de novembro de 1928, o maestro criou composições para filmes, peças de teatro e rádio, além de fazer concertos com orquestras ao redor do mundo. Na década de 1950, sua carreira começou a decolar, levando para o mundo da sétima arte em 1961, no filme "Il Federale", de Luciano Salce.
A partir de então, centenas de grandes películas contaram com a destreza e as músicas do compositor. Entre suas maiores obras, além daquelas que o levaram às indicações ao Oscar, estão os filmes "Por um Punhado de Dólares" (1964), "Cinema Paradiso" (1988) e outro trabalho com Tarantino, na trilha sonora de"Bastardos Inglórios" (2009) - além de criar músicas para os filmes "Django Livre" (2012) e "Kill Bill" (2003). Morricone também já fez apresentações para o papa Francisco e é o responsável pelo hino da candidatura de sua cidade natal, Roma, para os Jogos Olímpicos de 2024. Ao relatar sua grande capacidade de trabalhar com o cinema, Morricone explicou que gosta de ter liberdade. "Há diretores que pedem coisas razoáveis e, neste caso, eu os ouço. Mas, depois, coloco minha assinatura, a minha atenção criativa. Não é passiva essa aceitação dos pedidos dos diretores", destacou o italiano afirmando que "Tarantino não me pediu muito para o filme e eu me senti completamente livre". "Quando te dizem isso [de ser livre], devo assumir uma responsabilidade ainda maior, mas ao fim, as melhores coisas que fiz vieram mesmo destes casos, quando me deram carta branca", ressaltou.
Apesar do Oscar ter chegado apenas aos 87 anos, Morricone tem uma carreira premiada pelos maiores eventos mundiais do cinema.
Ao todo, ele conquistou três Globos de Ouro - inclusive em 2016 -, cinco Baftas, sete David di Donatellos, um Grammy e recebeu, em 2009, a indicação para entrar na Ordem Nacional da Legião de Honra da França.
Na carreira fonográfica, ele acumula 27 discos de ouro, sete de platina e ainda viu a trilha sonora do filme "Três Homens em Conflito - O Bom, o Mau e o Feio", de 1966, entrar no Grammy Hall of Fame em 2009. Na semana passada, no dia 26 de fevereiro, Morricone foi agraciado com uma estrela na Calçada da Fama de Los Angeles.
Pela importância que tem na história da Itália e do mundo do cinema, um livro sobre o maestro será lançado no próximo dia 3 de maio. Chamado de "Inseguendo quel suono" ("Perseguindo o som", em tradução livre), a obra será repleta de entrevistas especiais.
"É um tipo de biografia profissional, sobre as coisas que eu penso da música no cinema, o que deve ser feito para ter boa música, o que não se deve fazer. O título deriva de uma poesia escrita pela minha mulher. De cara, não havia concordado com o título, me parecia que não explicava muito, mas depois me convenci e agora gosto dele", ressaltou.
- Repercussão: A vitória do maestro Morricone foi repercutida por autoridades da Itália. Para o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, a vitória foi um reconhecimento por sua carreira. "Grandíssimo maestro, finalmente!", postou o premier em sua conta no Twitter.
Já o presidente do país, Sergio Mattarella, afirmou que "as composições do maestro Ennio Morricone causaram comoção e fizeram sonhar gerações interios do mundo todo. O Oscar é um reconhecimento merecido que premia a vida que um grande artista dedicou à música. Ao maestro Morricone, os meus mais sinceros parabéns e um obrigado de toda a Itália".
O ministro dos Bens Culturais e Turismo, Dario Franceschini, postou nas redes sociais que a vitória do italiano é o "triunfo de um gigante dos cinemas de todos os tempos". Até mesmo seu time de coração, a Roma, postou em seu Twitter uma homenagem à Morricone, parabenizando pela conquista. (ANSA)