Depois de Carros 2 e Toy Story 3, chegou a vez da cultura
nórdica abrigar uma trama da Pixar, ideia já abraçada pela Dreamworks com seu Como Treinar Seu Dragão, de 2010, que fisgou duas indicações ao
Oscar. Apesar de semelhante no contexto, a nova investida do estúdio da Disney
em nada se parece com o longa dos dragões, mas talvez alcance-o (ou até
supere-o) nas indicações para a estatueta do ano que vem.
Dessa vez, a Pixar dá vida a uma adorável princesa de cabelos e natureza rebeldes que luta por sua liberdade diante do desejo dos pais de casá-la. Como opções, o primogênito de cada uma das famílias que formam o clã ao qual seu brazão real pertence. Criada - em vão - pela rainha para se tornar uma donzela e aceitar seu destino como tal, ela se recusa a vestir o molde de princesinha convencional e decide lutar pela sua liberdade.
As consequências disso são várias. Ao deixar o orgulho e a vontade falarem mais alto que o cuidado e a prudência, a pequena Merida causa um problema que poderá resolver apenas se estiver disposta a repensar todas as suas atitudes diante da família. É quando percebe que, talvez, ainda não tenha tanta maturidade para escrever seu caminho de punho próprio, mas que coragem e determinação podem lhe servir de lápis para começar a esboçá-lo.
Como
qualquer conto de fadas, há o teor moralizante que tornou-o clássico como
estilo, além de quase todos os elementos que normalmente o compõem: uma bruxa,
feitiços, um vilão, uma princesa... O único que falta é o príncipe: Há apenas
concorrentes que não parecem cumprir bem as exigências ao cargo.
É
impressionante ver como, mais uma vez, a Pixar combina bem os elementos na
telona. Trilha sonora, roteiro e direção de arte se complementam de maneira
harmoniosa, sem que haja destaques isolados. Pode-se esperar a mesma qualidade
de diversão e risadas que o estúdio imprime e todos os seus filmes. A versão
brasileira é igualmente boa, tanto na dublagem, por muitas vezes motivo de
narizes tortos no cinema, quanto na adaptação das músicas para o português.
Há que se lembrar, naturalmente, que enxergar Valente como um mero filme infantil é um erro. Personagens complexos e conflitos bastante humanos deixam as animações de hoje muito mais profundas que as tramas de outrora, em que uma maçã envenenada ou uma trança de cabelos eram símbolos de perigo ou salvação. Aqui há símbolos e arquétipos, mas há também culpa, determinação, coragem e rebeldia. E, claro - como não poderia deixar de haver - diversão.
Cotação: *** (Ótimo)