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Cinema - Festival de Cannes

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CANNES – Se há um elemento comum às tramas dos filmes exibidos nesses primeiros dias da competição do 65º Festival de Cannes ele é o encontro amoro. Essa é a centelha tanto a correria bem-humorada e estilizada de Moonrise kingdom, do americano Wes Anderson, que abriu a corrida pela Palma de Ouro nesta quarta-feira (16), quanto o drama político que abre em After the battle, do egípcio Yousry Nasrallah, como também o drama psicológico De rouilelet et d’os, do francês Jacques Audiard, exibidos nesta quinta-feira (17).

 O novo filme do autor de Os excêntricos Tenenbauns (2001)  se passa em 1965 e descreve a grande aventura romântica de dois pré-adolescentes problemáticos, fadados ao ostracismo por causa de suas excentricidades. Eles se conheceram nos bastidores de uma peça da igreja e, um ano depois, põe em prática uma fuga da ilha onde vivem, numa ilha da costa da Nova Inglaterra, para viverem juntos. “Quis mostrar o lado emocional da paixão quando ainda somos crianças”, explicou Anderson.

Os namorados de primeira viagem de Moonrise kingdom  são Sam (Jared Gilman), escoteiro de muitos talentos, mas poucos amigos, Suzy (Kara Hayward), garota apaixonada por livros de fantasia e as músicas da cantora francesa Françoise Hardy. O elenco adulto conta ainda com a contribuição de Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray e Frances McDormand. “Usei memórias de coisas que gostaria que tivessem acontecido comigo, mas que na verdade não ocorreram”, brincou o diretor.

O acaso também uniu os amantes de De rouille et d’os, o primeiro filme de  Audiard depois de O profeta (2009). Quebrado e com um filho de cinco anos para criar, o pugilista Sam (Matthias Schoenaerts) procure refúgio na casa da irmã, no sul da França. Durante uma briga na boate onde trabalha como segurança, ele vem a conhecer Stephanie (Marion Cotillard), adestradora de baleias assassinas do aquário local. Esta perde as pernas e a autoestima numa tragédia envolvendo os cetáceos, mas redescobre o sentido da vida sob os cuidados do lutador, que agora levanta uns trocados em lutas de vale-tudo. 

O filme é inspirado no livro de contos homônimo do escritor americano Craig Davidson, recheado de histórias sobre indivíduos comuns, cujas vidas são solapadas por grandes traumas. “Depois de O profeta, protagonizado por figuras masculinas,  fiquei interessado em trabalhar com uma história de amor em tempos de crise. Sam e Stephanie são personagens que não existem nos contos de Davidson, mas encontramos nos textos dele a brutalidade que precisávamos para o melodrama que desejávamos fazer”, contou Audiard.

Um flerte está por trás de After the battle, ambientado durante os meses que se seguiram às manifestações populares na Praça Tahrir, no Cairo, em fevereiro de 2011, que levaram à renúncia Hosni Mubarak, líder militar há 30 anos no poder.

Humilhado publicamente por ter lutado contra os jovens revolucionários, Mahmoud (Bassem Samra) perde o emprego e o prestígio no bairro onde mora com a mulher e os filhos, aos pés das pirâmides. É quando entra em cena Reem (Menna Chalaby), jovem publicitária e militante revolucionária, que se sente atraída pelo rude cavaleiro e, ao mesmo tempo, comovida com o infortúnio de sua família.

“Queria mostrar o lado humano desse momento histórico do Egito. Os fatos são mais complexos do que as imagens que circulam pelo mundo das manifestações e confrontos na Praça Tahrir. Meu desejo era falar sobre as muitas versões dessas pessoas, revolucionários ou não, que se recusam a serem esmagados pela História”, explicou o diretor Yousry Nasrallah.