Iesa Rodrigues, Jornal do Brasil
PARIS - Os primeiros desfiles da semana parisiense de coleções de inverno apontam para uma mudança principal: os estilistas reduzem o poder do preto como a cor da vestimenta feminina. Nas passarelas sim, elas voltam a ter uma altura, a partir do piso das salas dominam os beges, cáquis e rosados. Cinzentos, marinhos e até brancos são sugeridos, o que não impede que o preto continue competindo, em calças de couro e vestidos de coquetel.
O outro ponto forte é a mistura de décadas. Valem os anos 60, 90 e voltam do fundo do baú os 50. De cada fase destas, nota-se um detalhe importante. Dos 50, a cintura fina, marcada por cinto ou pelo corte das roupas. Dos 60, a elegância dos vestidos estruturados, pouco acima dos joelhos. E dos 90, no lugar das desconstuções japonesas e manias vintage dos belgas, o que se vê é a preocupação de juntar o estilo esportivo das mesclas dos joggings e sweatshirts de moleton com os tecidos mais brilhantes e ricos.
Dries van Noten, o mestre belga dos estampados e orientalismos, deixou um pouco de lado estas suas marcas registradas. Preferiu exercer o poder de misturar referencias em décadas divesas, como 50, 60 e 70 com sutis inspirações militares. Em matéria de estampa, deu aval para a continuação das estampas de bichos. Mas o melhor foi a proposta de mangas militares em vestidos de estilo clássico, cintura no lugar. Ou as parkas esportivas e urbanas, adornadas por bordados. Pouco conhecido fora de Paris, mas interessante pelo humor nas coleções, Giles Deacon desta vez apostou nos looks meio caricaturais, com modelos de cabelões e vestidos cheios de recortes, revelando peças diferentes por baixo. Em jogos de cáquis, tons de café e um amarelo-cítrico, de assustar.
Já a Rochas uma marca meio cometa, porque de vez em quando some das paradas, mesmo com belas coleções voltou nesta temporada, com Marco Zanini, egresso da Versace. O desfile realizado no lugar de um banco falido na Place Vendôme mostrou que o estreante sabe que a marca é senhorial, mas pode encantar as garotas que cultivam a nostalgia dos anos 60. Elas vão gostar de sair com os cabelos longos desfiados no alto, calçar sapatos de saltos quadrados. E usar vestidos estruturados com recortes, enfeitados por laços duplos (ou rosetas de fitas, enfeite bem francês), ou arrematados por babados pregueados. Nos tecidos, em vez das tradicionais rendas de Rochas, Zanini apostou em brocados com motivos dourados, tanto em elegantes túnicas, típicas dos anos 60, como em calças flare, as novas versões das bocas-de-sino os anos 70.