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Série de Nelson Hoineff mostra as histórias de 13 chacretes

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Paulo Ricardo Moreira, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Nos idos de 1970, Gloria Maria Aguiar da Silva, mais conhecida como Índia Potira, chegou para gravar o programa do Chacrinha com uma faixa na cabeça. De ascendência indígena, a assistente de palco do Velho Guerreiro era uma das poucas que ainda não tinha apelido. Ao vê-la com os cabelos presos, Chacrinha não teve dúvidas: completou o visual com uma pena na cabeça e batizou-a de Índia Potira, nome da personagem que Lúcia Alves vivia na novela Irmãos Coragem, na Globo. Histórias como esta fazem parte de As chacretes, série dirigida por Nelson Hoineff que estreia nesta quinta-feira, às 20h15, no Canal Brasil.

Quando me viu, Chacrinha enlouqueceu. Mandou botar a pena na cabeça, eu não quis, chorei muito. Mas ele sabia o que estava fazendo. A Índia Potira ficou marcada até hoje diz Gloria Maria, uma das chacretes mais famosas em sua época e estrela do primeiro episódio.

A série vai mostrar a trajetória de 13 das mais importantes dançarinas que passaram pelo palco do programa de Abelardo Barbosa, entre elas Gracinha Copacabana, Lucia Apache, Cléo Toda Pura, Vera Furacão, Fátima Boa Viagem e Rita Cadillac. Vestindo maiôs provocantes e realizando coreografias sensuais, elas se tornaram as mulheres mais desejadas do país.

O mais importante é mostrar que essas mulheres que foram símbolos sexuais não são apenas uma bundinha durinha, mas têm emoções, aspirações, sucessos e fracassos. Na série, damos a elas uma dimensão humana conta Nelson Hoineff.

O diretor percebeu que as histórias das ex-chacretes davam uma série quando ainda estava filmando seu premiado documentário Alô, alô, Terezinha, sobre o Velho Guerreiro.

No filme, ficou a vontade de mostrar mais. Me surpreendi com as histórias. Então, surgiu a ideia da série e voltei a filmar com elas lembra o diretor. Tentei selecionar as chacretes que foram mais importantes em diferentes fases do Chacrinha e que tinham boas histórias para contar.

Com cerca de 12 minutos de duração cada um, os episódios acompanham o dia a dia das ex-dançarinas. Além dos depoimentos, o programa traz imagens de arquivo que vão fazer os antigos fãs viajarem no tempo.

Mostramos o que elas fazem hoje, onde vão, com quem se encontram. A gente só as conhecia daquele momento efêmero, quando eram moças com corpos bonitos.

A capixaba Gloria Maria Aguiar da Silva, de 62 anos, estava afastada dos holofotes há quase 30. Na série, a ex-chacrete que se casou aos 14 anos, teve três filhos e hoje está solteira revela por que deixou o programa e como se apaixonou por um traficante de drogas. O amor bandido lhe custou três anos de prisão, por envolvimento com o tráfico.

Naquela época eu era jovem, semianalfabeta, não sabia de nada, só tinha beleza confessa a eterna Índia Potira, que foi chacrete de 1969 a 1978. Me arrependi de ter saído. A vida me pregou uma peça. Conheci pessoas que não tinham nada a ver e me dei mal por estupidez e ignorância.

Ela garante que não ganhou muito dinheiro. Embora algumas de suas contemporâneas digam o contrário. Ano passado, Gloria Maria criou polêmica e comprou uma briga com suas ex-colegas ao afirmar que algumas faziam sexo por dinheiro:

Eu falei que já fiz programa e que algumas tinham feito também. Elas ficaram ofendidas e agora estão me processando.

Segundo Hoineff, todas consideravam Chacrinha como um paizão, que cuidava da carreira delas, zelava pelo bom comportamento e não as deixava sair à noite.

Como eram mulheres bonitas e assediadas, era meio improvável que elas ficassem reclusas. Algumas revelam até que saíam com artistas famosos.

Gloria Maria mora com a filha e o genro num apartamento em Copacabana, e trabalha como faxineira em um banco no Jardim Botânico. Com saudades do palco, a Índia Potira diz que a série de Hoineff foi como uma luz no fim do túnel:

Me sinto honrada de participar, feliz, porque estava afastada da mídia.