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Balanço 2009: moda nacional trocou direção de seus principais eventos

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Iesa Rodrigues, Jornal do Brasil

RIO - O ano de 2009 foi uma temporada de mudanças. E a moda aderiu ao clima de inovações e surpresas. Estes detalhes fazem parte da própria conceituação da moda, mas mais forte do que um súbito encurtar de bainhas ou uma radicalização de decotes foi o que aconteceu no backstage (bastidores e camarins são palavras completamente out no jargão do setor) dos eventos brasileiros. Apesar das negociações acontecerem desde agosto de 2008, só em fins de março estourou a notícia da troca de direção do Fashion Rio. Paulo Borges, diretor da empresa Luminosidade e criador da São Paulo Fashion Week, assumiu o lugar de Eloysa Simão, diretora da Dupla Assessoria, através de um acordo da Firjan com a InBrands, a mesma empresa que mais tarde comprou também o evento Rio Summer.

Mais eventos fora de RJ e SP

A grande diferença, a mais visível, foi a mudança das tendas armadas na Marina da Glória para as belas salas nos armazéns do Cais do Porto. Saíram algumas marcas, mas a essência do evento continuou a mesma.

Enquanto Rio e São Paulo polemizavam sobre a troca de diretores cresceu a importância dos eventos realizados em outros estados. O Minas Trend Preview fez bonito, com desfiles conceituais impecáveis; a Amazônia Fashion Week mostrou que Belém tem estrutura, local adequado o centro de convenções Hangar e muita moda; e Brasília mantém o rumo de aliar desfiles e música no evento comandado por Paula Santana. Em quase todas essas passarelas, Ana Claudia Michels foi a modelo-estrela, desfilando ao som de trilhas com Michael Jackson, já que a onda de bossa nova passou como música na moda.

Nos desfiles do ano, destacaram-se o Espaço Fashion, pela coerência e cuidados na cenografia e acessórios; o Acquastudio, pela coragem de romper com o estilo comercial-festivo e mostrar roupas conceituais, de modelagens extravagantes; o estilista Carlos Tufvesson, também pela ousadia de sair do esquema alta-costura elegante e sóbria e partir para minivestidos coloridos, ao som de I feel love, hino de discotecas nos anos 80. Em São Paulo, o destaque foi a Cavalera, que desfilou em um domingo ensolarado sobre o asfalto do viaduto conhecido como Minhocão, no Centro da cidade. A ideia de romper com tradições foi confirmada em outubro pelo desfile da Chanel, em Paris: um cenário inspirado na cabana de Maria Antonieta em Versalhes acolheu a coleção de aventais e tamancos de camponesas. Bem diferente da habitual sofisticação da marca dos tailleurs e perfumes

de luxo.

A televisão manteve o papel de veículo disseminador de modismos. A novela Caminho das Índias, de Gloria Perez, provocou uma onda de cores e acessórios dourados e brilhantes, principalmente brincos filigranados e pedrarias.

O Rio recebeu um evento de moda internacional, o Fashion Rocks. Os ingressos caros e a dificuldade de acesso à bela arena montada no Jockey Club da Gávea prenunciavam o resultado que desagradou a maioria que pagou no mínimo R$ 600 para assistir ao espetáculo de moda e rock. Na verdade, foi só rock, com destaque para Grace Jones (rock?). A moda passou à distância e não foi alvo nem das câmeras que enviavam as imagens para os pequenos telões.

Primeiras-damas no topo

Grandes nomes do ano? Além de Carla Bruni, que apareceu mais na mídia do que no tempo em que era uma das modelos mais lindas do circuito internacional, tivemos a primeira-dama americana Michelle Obama, que tem demonstrado como ser elegante mesmo tendo quadris largos e como escolher as próprias roupas, sem parecer uma alegoria de estilista.

Coincidência ou não, o brasileiro Francisco Costa, que assina as coleções Calvin Klein, vestiu a sra. Barack Obama e ganhou o premio National Design Awards, nos Estados Unidos. Um prêmio merecido, pela maneira original com que o estilista mineiro interpreta o jeito minimalista e sensual de Calvin Klein, fundador da marca. Que só quer saber de circular pelos points animados do Rio.

Fim das grandes cadeias é tendência mundial

Uma das transformações mais significativas no mercado da moda começou em 2009 e deve marcar a próxima década. Chegam ao fim as carreiras das lojas de departamentos e crescem os espaços dedicados a mostrar estilo a preços baixos. O Brasil apontou este caminho, com o final da rede Mesbla nos anos 90. Agora, esta tendência vira realidade até na próspera Alemanha, onde começam a fechar lojas como a Karstadt, rede que já foi referência na Europa. Em compensação, inaugurações de marcas como a japonesa Uniqlo, que vende principalmente peças básicas como jeans, moletons e camisetas, atraem multidões e provocam filas no centro de Paris, a capital da moda mundial. Isto, enquanto Hong Kong se firma como centro capaz de competir com as marcas e eventos ocidentais.

No varejo brasileiro o Shopping Leblon se firmou como endereço de compras, lazer e restaurantes. Mas, segundo os lojistas, quem ainda vende muito é o Shopping Tijuca. Nas vitrines destes templos do consumo o verão trouxe a mudança prevista pelos pesquisadores de tendências: as cores fortes e os néons predominam nas coleções. As calças skinny e os leggings continuam sendo favoritos, cedendo algum lugar para o conforto da saruel de malha. O corte boyfriend, perfeito nos jeans, ainda vai estourar no inverno. As sandálias gladiadoras abriram o ano, e foram substituídas pelas sandálias de dedo, com lacinho na frente ou calcanhar fechado. Em matéria de salto, a plataforma meia-pata, que pode chegar à altura de 20 cm, competiu com as sapatilhas e rasteiras, que voltaram a fazer sucesso depois da passagem de Carla Bruni, calçada de forma a não ficar mais alta do que o marido, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que mede 1,65m.