ASSINE
search button

Versões cantadas em finlandês pela banda Maria Gasolina

Compartilhar

Taís Toti, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Com alguns segundos de audição já é possível identificar as melodias de A luz de Tieta, Carro velho ou Carolina Carol Bela. Difícil mesmo é descobrir em que língua estranha estão sendo cantadas aquelas músicas tão familiares. Um misto de alegria com estranhamento é a experiência de ouvir Maria Gasolina , banda finlandesa que faz versões em sua língua pátria de músicas brasileiras.

No começo era meio piada. Metade de nós não sabíamos nem tocar quase nada, era só para a gente se divertir. Sonhávamos talvez um dia tocar em algum barzinho ou algo assim explica a vocalista e trompetista Lissu Lehtimaja em entrevista, feita em português. Nunca imaginaria que iria crescer como acabou acontecendo.

Lissu foi a responsável por começar a brincadeira que virou coisa séria. Durante um intercâmbio no Brasil entre 1993 e 1994, aprendeu a língua portuguesa e ficou conhecendo a cultura brasileira.

E é claro, com apenas 16 anos de idade, não fui uma super-antropóloga ativa em todas as dimensões da sociedade brasileira, mas tinha um grande interesse pela música popular daí. Gravava fitas dos discos dos pais dos meus amigos e curtia muito a onda do tropicalismo, MPB, todas essas coisas.

Voltando à Finlândia, Lissu tocava essas pérolas de MPB para os amigos. Decepcionou-se quando viu que as músicas não tinham o mesmo efeito nas outras pessoas, que não entendiam as letras. Foi aí que decidiu traduzir algumas músicas. Em 2001, chamou alguns amigos para o projeto que agora conta com oito integrantes, já conhecedores de música brasileira.

Além das composições do nosso país, que são 80% do repertório da Maria Gasolina, a banda também faz versões de Lily Allen, Blondie e Manu Chao (ouça em https://www.myspace.com/mariagasolina).

Apresentamos músicas que o nosso público provavelmente jamais teria ouvido, ou então algo que até poderia conhecer, mas sem entender a letra. Às vezes colocamos alguma coisa mais conhecida no meio, só para que todos se lembrarem que as músicas não são nossas&

Desde clássicos da MPB como Chico Buarque, Caetano Veloso e Jorge Ben Jor até o axé de Ivete Sangalo e Banda Beijo, tudo é material para a Maria Gasolina.

Para eu gostar da música ela nem precisa ser boa, mas tem de ter pelo menos algum elemento de contraste. Minhas favoritas sãoas canções narrativas, que contam algum tipo de história.

O que às vezes é um critério na seleção do repertório do grupo é a própria tradução, que pode não cair bem em uma música específica. Lissu explica que a grande diferença entre as línguas e mesmo o som de uma palavra dificulta o processo.

Para mim, a letra é mais importante. Às vezes até mudo a melodia ou o ritmo um pouquinho para encaixar nos versos. A prioridade é passar a mesma emoção e as mesmas imagens na cabeça do finlandês. As emoções são as mesmas no mundo inteiro, independentemente do país ou da língua.

Transmitir emoções deve ser a especialidade do Maria Gasolina, que consegue fazer dançar o público rígido da Finlândia.

Será que é por que nós, da banda, nos divertimos tanto tocando juntos? Ou o público já está bêbado quando começamos? Será que é a alegria da música brasileira, que, com um arranjo meio finlandês, fica menos estranha para eles dançarem? diverte-se Lissu.

O nome Maria Gasolina surgiu de repente, com a necessidade de botar um nome na capa da primeira gravação, em 2001.

Na gravação havia uma versão meio punk de Carro velho, da Ivete Sangalo. Achávamos um nome engraçado. Os finlandeses, é claro, não sabem o que significa, mas era fácil pronunciar, escrever e lembrar. Tinha um som exótico e humorístico até no ouvido finlandês.

A banda tem planos de, no começo do ano que vem, gravar o terceiro CD. Sobre uma vinda ao Brasil, Lissu deixa certo mistério:

É complicado e caro com uma banda de oito pessoas, mas se tudo der certo talvez possamos ir até aí no fim do ano que vem.

A finlandesa cheia de ginga brasileira brinca na hora de revelar se, afinal, sabe ou não sambar:

Vou mexendo com alguma fluência no meio do multidão, mas é melhor não prestar muita atenção na minha técnica nos pés...