Isabela Fraga, Jornal do Brasil
RIO - Uma casa do início do século 20, em Salvador, está prestes a abrigar uma exposição histórica. A partir de sexta-feira, lá estarão dispostas nada menos que 62 esculturas originais em gesso do artista francês Auguste Rodin (1840-1917), um dos precursores da escultura moderna. Intitulada Auguste Rodin, homem e gênio, a exposição marca a primeira vez em que essas peças deixam o Museu Rodin Paris e permanecerá em cartaz por três anos.
Entre as obras, estão esculturas de grande porte, consideradas finais, as referências das obras em bronze. Há, por exemplo, O pensador, O beijo, O homem que anda e A defesa (com 2,25m a maior de todas). Por serem de gesso e não de metal, as peças têm um significado especial.
Essas peças s não são apenas o modelo para as esculturas em bronze. Elas têm a mão do próprio Rodin, que as usou como estudo e teste explica Heloisa Costa, museóloga e curadora da exposição. Assim, acaba aproximando mais o público do artista. As pessoas veem que, ao mesmo tempo em que ele era um gênio, também passava por um processo
de criação.
Quebra de paradigmas
Na verdade, a grandiosidade de Rodin está justamente na forma como via e encarava o processo de criação. Seu uso do gesso como estudo de corpos, músculos e expressões foi inovador em sua época, pois não os encarava como uma fase a ser superada antes de uma suposta escultura final. A preocupação mais importante do artista deve ser moldar musculaturas que tenham vida , escreveu. Por isso, a obra Rodin rompeu paradigmas em relação à escultura clássica: em vez de se importar com os corpos perfeitos e jovens como faziam artistas contemporâneos e antecessores, seu esforço se dava no sentido de expressar sentimentos e vida por meio de suas obras.
Rodin rompeu com muitos cânones explica Heloisa. Como apreciava a escultura como atividade plástica, ele dava valor aos fragmentos, que, no seu entender, eram belos apenas se bem trabalhados. Daí o trabalho de Rodin conter, para além de corpos femininos belos e jovens, também pessoas imperfeitas , como a escultura chamada Inverno, que retrata uma senhora idosa e magra sentada.
A ideia de realizar uma exposição permanente ou duradoura de obras de Rodin na Bahia não é de hoje. Desde a mostra de esculturas de bronze na Pinacoteca de São Paulo, em 1995, o então diretor Emanoel Araújo (hoje diretor do Museu Afrobrasileiro), começou a pensar em ter uma espécie de filial do Museu Rodin Paris no Brasil. Entre 2002 e 2006, a casa que hoje abriga o Palacete das Artes Museu Rodin Bahia onde a exposição será realizada passou por uma série de reformas, e o próprio Araújo começou a negociar com os representantes do museu na França. Os tratos só se cumpriram no governo seguinte, quando a exposição de fato foi acertada.
A Bahia esteve por muito tempo afastada e ilhada em si mesma opina Márcio Meirelles, Secretário de Cultura do estado. Isso foi bom porque hoje temos uma cultura própria bastante forte, mas também precisamos dialogar com outras artes, tempos e artistas.