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O 'road record' de Neil Young

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Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil

RIO - Aos 63 anos boa parte deles dedicada ao rock e uma produção musical de fazer inveja (são 32 álbuns de estúdio), Neil Young arranca em alta velocidade, com o novo álbum Fork in the road e diversos títulos elevados à categoria de clássicos eternos. Destaques no topo desta lista para After the gold rush (1970), Harvest (1972), On the beach (1974), Comes a time (1978) e Freedom (1989), além de um punhado de registros ao vivo e participações indispensáveis nos supergrupos Buffalo Springfield e Crosby, Stills, Nash & Young. Do Canadá para o mundo, o cantor, compositor e guitarrista dispara agora mais um CD. Do título ( bifurcação ) às letras e sonoridade, o álbum é inspirado em seu carro, um Lincoln Continental de 1959, e no projeto ecológico que o guiou: rodar estrada afora e adentro com energia elétrica ou gás natural. Pretende servir de exemplo para que outros convertam seus veículos a andar com energia alternativa. Para isso, criou empresa própria, a Linc Volt, e até mesmo o mecânico por trás da empreitada ganhou homenagem, no primeiro single do lançamento, Johnny Magic. Esta e mais nove faixas compõem o CD, quase todas curtas canções estradeiras com a típica pegada roqueira, puxadas por guitarras que dialogam no estéreo. Apenas duas lentas, Off the road e Light a candle.

Com um pé na estrada do futuro olhando para trás

Ligue o carro, abra os vidros, insira o novo disco de Neil Young para rodar e pegue a estrada. Mesmo que seu bólido não seja um banheirão conversível como o do roqueiro canadense, esta é a forma mais indicada para se consumir as 10 faixas dos cerca de 40 minutos (nada das suas viajantes epopeias de mais de 10 minutos) de guitarras cruas, características de seu som há décadas. Gravado entre Nova York e Londres, Fork in the road é clássico Neil Young em seu estado mais rude. É apenas bateria, baixo, piano, órgão Hammond e muitas guitarras, além de sua típica voz anasalada, em rocks estradeiros e garageiros com raízes blueseiras, de levadas que ora remetem a John Lee Hooker (Johnny Magic, Get behind the wheel e a faixa-título) e chegam até a flertar com ares zeppelianos (When world collide) e stonianos (Fuel line). Explorador de novos territórios, o pioneiro do folk rock, que já foi do blues ao rockabilly e música eletrônica, neste não se deixa desviar em bifurcações (fazendo trocadilho com o título do lançamento) e mantém-se fiel ao seu mais usual território.

Certo ar de nostalgia não aponta que esteja vivendo no (ou do) passado. Ecos de áureos tempos dão as caras, é verdade, como em Cough up the bucks, que remete à sujeira que implementava aos vocais límpidos do Crosby, Stills & Nash, mas ainda assim soa com frescor, com sabor de novidade, fazendo jus ao seu sobrenome. Um cada vez mais jovem Neil faixa após faixa. Atento ao presente, volta ao estúdio em disco que sonoramente se inspira nos bons e velhos tempos, mas mira no futuro, tanto nas soluções musicais quanto nas propostas de suas mensagens.