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Spike Lee: documentário sobre Kobe Bryant põe espectador na quadra

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Franz Valla, Jornal do Brasil

NOVA YORK - Vinte anos já se passaram desde o lançamento de Faça a coisa certa, um filme sobre tensões raciais ambientado num subúrbio do Brooklyn que serviu para introduzir uma nova geração de atores negros e latinos de Nova York, incluindo seu diretor, Spike Lee, ao mundo das produções independentes. Este não foi seu primeiro longa. Ele já ganhara notoriedade com She's gotta have it, que recebeu premiação no Festival de Cannes em 1986, e School daze (Lute pela coisa certa, de 1988), mas Faça a coisa certa foi o primeiro a receber indicação ao Oscar por melhor roteiro original, o que lhe trouxe reconhecimento comercial em casa. Sua inclusão na seleta lista de influentes diretores nova-iorquinos, ao lado de Woody Allen, Jim Jarmush e outros da sua época foi imediata, devido à sua visão crítica sobre o impacto de causas sociais e políticas no universo de seus personagens. Sua produção subsequente foi pouco a pouco assimilando os padrões comerciais requisitados pela indústria, como pode ser conferido no recente Inside man (O plano perfeito), com Denzel Washington, no qual sua assinatura só é reconhecida pela ausência de julgamentos morais, tão comum em filmes do gênero. Mas engana-se quem acredita que o cineasta do gheto termo atribuído a ele em uma entrevista da época tenha sido assimilado. Apesar de muito ter mudado nos últimos 20 anos, a inquietação política e social do diretor continua pulsante. Fiel às suas raízes, ele ainda mora e trabalha no Brooklyn, onde fica sua produtora, a 40 Acres and a Mule Filmworks. Sua última produção, o documentário Kobe doin' work, feito em conjunto com a ESPN, teve pré-estréia de gala durante a oitava edição do Tribeca Film Festival deste ano e agora será exibido no dia 16 pela rede de TV esportiva sem intervalos comerciais. Para falar do filme, ele recebeu o Jornal do Brasil após um dos paineis do Tribeca e durante uma conferência por telefone com jornalistas esportivos.

Eu já havia feito outros pequenos documentários esportivos sem muita repercussão, mas há alguns anos vi um filme sobre o Zidane no festival de Cannes que não me saiu mais da cabeça relembra ele. Eram várias câmeras apontadas para o artilheiro. Uma experiência cinemática que eu não tinha tido antes. Daí pensei: por que não fazer a mesma coisa pelo basquete?

O diretor ruminou a ideia por algum tempo até a ESPN demonstrar interesse em co-produzir o filme no ano passado. Kobe Bryant foi escolhido por unanimidade para protagonizar a fita, já que foi o jogador MVP do ano na liga do basquete americano. Uma vez tendo tudo acertado, só faltou escolher o momento adequado para rodar o longa. Isso aconteceu na noite de 13 de abril do ano passado, quando o Lakers, time de Kobe, disputou uma partida pelas finais contra o San Antonio Spurs.

Queríamos transmitir a sensação de estar na quadra ao lado de Kobe diz ele sobre a logística do filme. Por isso espalhamos 30 câmeras pela quadra para seguir cada passo dele. Ele ainda tinha um microfone sem fio atachado, de forma que pudemos captar até seus comentários pessoais na quadra. Para aumentar a carga emocional, mostramos também os atletas nos vestiários antes e depois da partida, que teve 20 cestas de Kobe. Eu esperava que ele fizesse 60, como havia feito antes contra o meu Knicks, mas foi de bom tamanho. Documentário tem dessas coisas, nada é previsível.

Faça a coisa certa completa 20 anos e vários eventos já estão arranjados para comemorar a passagem. O próprio diretor reconhece que hoje esse filme não faria muito sentido.

Muita coisa mudou nos últimos 20 anos. O mundo mudou, Nova York mudou. O Brooklyn já não é mais considerado um gueto. Na época, não poderíamos imaginar que hoje teríamos um presidente negro. Prefiro que este seja lembrado como o retrato de uma época e que sirva para registrar o quanto avançamos desde então. Posso assegurar que não haverá uma continuação dele conclui o diretor.

Durante o Tribeca, chegou a ser anunciado por fontes da ESPN que uma futura colaboração seria um filme sobre a próxima Copa do Mundo na África do Sul, o que ele cuidadosamente ainda não confirma.

Não tem nada acertado ainda, mas é verdade que gostaria muito de fazer um filme sobre a Copa do Mundo e, claro, sobre a África do Sul. A copa será uma grande celebração para aquele povo. Vamos saber no futuro desconversa.

O futebol, afirma o diretor, é o seu segundo esporte do coração. Ele revela que adora o futebol brasileiro e que gostaria de poder acompanhar a seleção brasileira.

Gosto muito do futebol brasileiro. Para mim, filmar a Copa do Mundo seria uma grande oportunidade de poder seguir de perto a seleção brasileira. Gostei muito da experiência que tive quando fui ao Brasil filmar um vídeo do Michael Jackson e tenho certeza de que ainda vou filmar lá de novo.