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Diretor Jonathan Demme fala ao JB sobre 'O casamento de Rachel'

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Carlos Helí de Almeida, Jornal do Brasil

RIO - O drama O casamento de Rachel, em cartaz na cidade, é uma feliz interrupção na sequência de documentários que Jonathan Demme vem assinando nos últimos anos, como os filmes sobre o ex-presidente Jimmy Carter (O homem de Plains) e o músico Neil Young (Heart of gold). Pode-se dizer até que o longa-metragem estrelado por Anne Hathaway que concorreu ao Oscar de Melhor Atriz por seu desempenho como uma viciada em álcool e drogas nasceu de um favor do diretor americano a um grande amigo.

Estava muito contente com a minha momentânea situação de autor e realizador de documentários e filmes sobre performances musicais quando Sidney Lumet (Rede de intrigas) me pediu para ler o primeiro roteiro escrito pela filha dele, Jenny contou o autor de O silêncio dos inocentes (1991) em entrevista ao Jornal do Brasil. Não costumo ler trabalhos de outros e só o fiz porque tenho o maior dos respeitos pelos de Sidney.

Na verdade, a trama criada por Jenny Lumet poderia se adaptar perfeitamente aos interesses cinematográficos imediatos do diretor.

Vi nela a oportunidade de contar uma história ao estilo do Dogma (movimento estético idealizado pelo dinamarquês Lars von Trier), juntar um pouco de cinema verdade, referências a (John) Cassavetes e (Robert) Altman. O melhor de tudo é que poderia ser um filme de baixo orçamento, feito fora do sistema hollywoodiano assegura Demme, cujo longa concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza.

O casamento de Rachel fala sobre uma jovem que interrompe uma de suas muitas temporadas em clínicas de reabilitação para voltar à casa dos pais, onde acontecem os preparativos do casamento de sua irmã mais velha. Kym (Anne), a protagonista, surge como elemento desagregador de uma família aparentemente feliz, que se esforça para apagar a memória de uma tragédia ainda recente. Sob a condução de Demme, a trama ganha uma abordagem realista e os personagens são perseguidos por uma câmera solta pelas dependências da propriedade que serve de principal locação do filme.

Quando mostrei o roteiro para (o diretor de fotografia Declan) Quinn, que participou de meus últimos documentários, expliquei que queria criar uma impressão de realidade, como um filme caseiro explica o diretor, que dispensou ensaios com o elenco. Mesmo as canções executadas pelos músicos contratados para o fim de semana de celebrações na casa foram escolhidas no momento da filmagem, nunca sabíamos o que iriam tocar.

A opção por uma jovem estrela de comédias românticas, como O diabo veste Prada (2006), para o papel, parecia improvável. Mas, por muitos anos, Anne Hathaway insistiu em cruzar, de modo enviezado, o caminho de Demme. Ele descreve o caso como um conto de fadas hollywoodiano :

Levei meus filhos para assistir a O diário da princesa (2001) e lá estava ela, aquela atriz adolescente que impressionava a todos. Anos depois a vi em uma cerimônia do Globo de Ouro, e fiquei surpreso em perceber como ela havia crescido e se destacava no meio daquele evento cheio de pompa derrete-se Demme. Mais quatro anos se passaram até chegar às mãos um roteiro que exigia uma atriz jovem para o papel central. O nome dela me veio imediatamente à cabeça. O melhor é que Anne tinha ideias fantásticas para a personagem.

A atriz diz que agora pode engrenar a carreira em produções mais maduras.

Este é o papel mais bem escrito que interpretei até agora. A idéia de um texto como este ter ganhado a direção brilhante de Jonathan, um dos cineastas mais complexos que conheço, e a contribuição de um elenco excepcional, faz deste um dos mais significativos filmes de minha ainda curta carreira comenta Anne. O mais interessante sobre Jonathan é que ele não diz ao espectador o que pensar a respeito do que está vendo. Não é um manipulador. Ele gosta que o público tire suas próprias conclusões. Como espectadora, odeio ser manipulada.