Maurício Zágari, Jornal do Brasil
RIO - Que bolsa-família, que nada. No documentário Contratempo, as diretoras Malu Mader e Mini Kerti provam de forma cabal que é possível transformar a vida de jovens que vivem em situação de risco por meio de projetos ligados à arte, a custo baixo e com resultados de longa duração. Sem nenhum malabarismo cinematográfico, o filme usa a mastigada fórmula de entrevistas sem locução para dar voz aos interessantíssimos personagens, adolescentes humildes vindos de favelas que, graças à música, constroem um futuro longe das drogas e do crime.
Enfaticamente, a narrativa mostra que aqueles que se desviam desse caminho e abandonam o barco acabam desafinando na vida. Editado num crescendo que flui com naturalidade, Contratempo evolui mostrando muitos lados de uma só moeda e deixa claro seu recado para a sociedade: se quiser fazer ação social não dê esmola, dê uma flauta. Um filme contundente, envolvente e de boa estirpe, com o qual Malu mostra que é bem mais do que um rostinho bonito.