Táia Rocha, Jornal do Brasil
RIO - Enxergar além do táctil é privilégio de todo artista no sentido mais autêntico da palavra. No caso de Oxana Narozniak, escultora de 62 anos e quase 40 de carreira, que inaugurou exposição no Centro Cultural Correios, são os gestos humanos que ganham aura mágica.
Vejo formas geométricas, acompanho os movimentos, vejo música nos gestos. Minha mente funciona como uma máquina fotográfica. Os olhos capturam a imagem, a mente a revela e as mãos traduzem o que interpretei. É complicado explicar o processo de criação, mas posso dizer que, se eu vivesse na Idade Média, já teria sido queimada viva brinca a artista, cujas esculturas podem ser encontradas da casa de Ivo Pitanguy à sede da ONU, em Nova York.
Oxana é filha de pais ucranianos e nasceu na Alemanha quando os dois fugiam da Segunda Guerra Mundial. Mas veio para o Brasil com a família quando ainda contava 4 anos.
Mas da Europa eu mal me lembro. A minha cidade é o Rio declara.
E também Nova York, onde vive hoje. Aos 20 anos, a escultora fez as malas e foi estudar na Art Students League of New York, uma das mais tradicionais escolas de arte dos EUA, onde cursou psicologia e belas artes. Entretanto, a artista se diz incapaz de definir exatamente em que cada país influenciou sua obra.
Não sinto a influência de cada lugar isoladamente. A verdadeira inspiração está dentro do artista pondera.
Em 1975, expôs pela primeira vez na Galeria Irlandini, em Ipanema, e em 1982 ficou nacionalmente conhecida ao fazer sua primeira individual no Museu de Arte de São Paulo (Masp), a convite do curador Pietro Maria Bardi.
Na época, a preferência pelas formas femininas era notada:
Já me rotularam como feminista porque faço quase que exclusivamente corpos femininos. Mas acreditar nisso é uma bobagem. Acredito que, antes de sermos homens ou mulheres, e antes ainda de sermos seres humanos, somos seres. As formas femininas são um veículo e são minha referência, aquilo que conheço melhor desmitifica. Quando alguém assiste a um espetáculo de dança não comenta o fato de ser uma mulher ou um homem dançando, mas a dança em si. Com uma escultura não deveria ser diferente.
A exposição, que ocupa uma sala do térreo do CCC, reúne 26 esculturas em bronze e 16 peças de parede feitas em argila fundida. Dez peças são inéditas no Brasil. Para o curador da mostra, Ricardo Kimaid, que pela segunda vez trabalha com Oxana numa mostra individual (a última foi em 2002, no Museu Nacional de Belas Artes), o que faz da arte da alemã única é o movimento que a artista consegue imprimir nas peças:
O bronze tem um peso estético grande. Trabalhar com esse material e conseguir leveza é bastante complexo. Oxana faz isso muito bem e pode ficar meses trabalhando em uma escultura, porque o processo de fundição é o que define essa suavidade explica. Ela optou pela técnica da fundição por cera perdida, que é uma das mais trabalhosas que há. E, se uma peça não fica no ponto exato que quer, recomeça.