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RIO - A pianista chinesa Zhu Xiao-Mei foi obrigada pelo governo chinês a interromper sua carreira como musicista em 1969, auge da Revolução Cultural que assolou o país. No livro O rio e seu segredo, que acaba de ser lançado no Brasil, ela conta como desafiou o regime do ditador Mao Tse-tung.
pianista.
Ela passou cinco anos na fronteira da Mongólia num um campo de reeducação onde, graças a algumas cúmplices, conseguiu aperfeiçoar às escondidas a sua habilidade com o piano: a mãe lhe mandou o instrumento e, com ele, a chinesa e seus colegas realizaram um singular e emocionante concerto.
Para a sorte deles, a Revolução Cultural foi tão bem-sucedida que o temido diretor do campo sequer reconheceu Tchaikovski, Dvorak ou Rachmaninoff proibidos junto com toda música ocidental.
Xiao-Mei foi uma das poucas que resistiram à Revolução Cultural, que durou de 1966 a 1976 e deixou uma geração perdida na China.
Em 1979, com a abertura que se seguiu à visita de Isaac Stern ao país, conseguiu partir para os Estados Unidos. Perdida na cultura ocidental, Xiao-Mei encontrou refúgio nas obras-primas de Johann Sebastian Bach, as Variações Goldberg que curiosamente abrem a porta à obra do pensador chinês Lao Tse, censurada pela China maoísta.
Em 1985, fixou-se em Paris, atuando em numerosos concertos na França e no resto da Europa. Em O rio e seu segredo, Zhu Xiao-Mei conta como conseguiu enfrentar o regime comunista através de Bach e do pensamento de Lao Tse.
- O livro tem trinta capítulos trinta, o mesmo que as Variações Goldberg, a obra-prima de Bach. Trinta capítulos e uma ária, que abre a obra e a encerra, formando um círculo parecido com o do tempo que torna a voltar sobre si mesmo, com a roda da vida. Freqüentemente me perguntam como é que uma chinesa, originária de uma cultura tão afastada, pode tocar a música de Bach. Eu gostaria que meus leitores chegassem à conclusão depois de terem lido este livro, mas, sobretudo, que tivessem vontade de escutar, de reescutar Bach. Queria também que eles tivessem vontade de ler ou de reler Lao Tse, o grande filósofo chinês. Pois estes dois sábios se parecem e as duas culturas, chinesa e ocidental, encontram-se neles - revela a autora, que só aos 40 anos fez seu primeiro concerto profissional, em Paris, e hoje é conhecida no mundo inteiro como uma virtuosa pianista.
O rio e seu segredo, um testemunho emocionante de uma mulher esmagada pela revolução cultural chinesa e salva pela música, venceu o Grand Prix des Muses de 2008.
Nas livrarias
O rio e seu segredo, de Zhu Xiao-Mei (tradução de Rejane Janowitzer)
Editora: Objetiva
R$ 35,90 (258 páginas)