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Leon Góes retoma 'A escola de bufões' em 'O silêncio dos amantes'

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Macksen Luiz, JB Online

RIO - No início de O silêncio dos amantes, em cartaz no Teatro do Planetário, na Gávea, as imagens de A escola de bufões, que Moacyr Góes dirigiu há 18 anos, voltam a se repetir. Da caixa-cenário surgem os bufões, com seus movimentos contorcionistas, máscaras e fala ininteligível, reforçando a lembrança daquela que foi a montagem de marca de Góes. Estas semelhanças não são gratuitas, mas uma forma de retomar as inquietações e a linha de trabalho do diretor, há alguns anos afastado do teatro, e que intitula seu novo grupo, a Cia. Escola 2 Bufões. Ao enquadrar o espetáculo na ambientação da histórica montagem, o diretor, mesmo se utilizando de contos contemporâneos de Lya Luft, recorre a uma teatralidade referenciada no jogo grotesco do humano para evidenciar menos semelhanças e mais permanências.

Paródias do contrário

Cada um dos contos é introduzido por encenações da bufonaria, que dispõe dos dados numa jogatina dos acasos, anunciando a sina de personagens bafejados pela tragédia, a solidão e o abandono. Este contraponto, que pelos contrastes dramáticos projetaria outra percepção dos quatro monólogos, de certo modo estabelece apenas paralelismos, deixando a cada conto sua autonomia expressiva. Os bufões, como contra-regras da exposição das emoções, constroem seu teatro particular, talvez como paródias do contrário, mas que se destacam do corpo dos textos. As narrativas de Lya Luft condensam sentimentos declinantes, perdas e impossibilidades que tornam a existência dura e inexorável. O menino-anão, que aos 10 anos precisa se reconhecer para agigantar-se. A mulher que diz Não saber é o que faz a vida possível . Ou os pesadelos do homem com a memória da mãe, e de outra mãe, que diante do desaparecimento do filho, o reencontra pela afirmação do desejo da vida inteira do rapaz.

São flagrantes de sentimentos que os bufões antecipam com a manipulação da marionete da morte, com copos de plásticos que forram o piso da instabilidade, com o alçapão que se abre para a descoberta do corpo atrofiado. Augusto Garcia, Carla Rosa, Giselle Lima e Leon Góes interpretam seus monólogos na freqüência e ao ritmo dos sentimentos exacerbados do material literário, mas desviando-se de qualquer tom melodramático ou emotivamente piegas.