Rachel Almeida, Jornal do Brasil
RIO - A atriz Susana Ribeiro resolveu encarar sua primeira direção aos 39 anos. E não se envergonha de dizer que achou a experiência muito radical acredita que a concentração de perguntas em torno de uma só pessoa pode não ser a opção ideal para se montar um espetáculo.
Foi como se sentiu durante o processo de Quartos de Tennessee, que entrou em cartaz esta semana no Centro Cultural Correios. Bastante compreensível para alguém que esta acostumada há um trabalho coletivo: Susana é co-fundadora da Companhia dos Atores que, este ano, comemora duas décadas.
É curioso notar que todos os atores da companhia (dirigida por Enrique Diaz) resolveram experimentar a direção este ano ressalta Susana.
Já estamos acostumados a desenvolver um olhar de fora da obra, porque é assim que costumamos trabalhar. Agora, me pareceu excessiva essa relação que se estabelece com o diretor. E me pergunto se é mesmo necessária.
A atual empreitada de Susana começou já na escolha de textos. Reunindo em cena os atores Graciela Pozzobon, Angela Rebello e Emílio de Mello, Quartos de Tennessee é formado por três peças curtas do americano Tennessee Williams (Fala comigo doce como a chuva, O que não foi dito e A dama da lavanda), além do prefácio que o autor escreveu para uma edição de À margem da vida, três anos depois da publicação da peça, intitulada A catástrofe do sucesso.
São partes desse prefácio que fazem a costura entre as peças explica a diretora estreante, que também adaptou o texto ao lado do roteirista David França Mendes.
Tennessee Williams era um lutador, que podia trabalhar como ascensorista ou numa fábrica de sapatos. Sua vida mudou radicalmente quando ele publicou À margem da vida. Sentido-se oprimido pelo sucesso, pelo luxo, por estar fora do seu habitat, ele escreve esse prefácio.
Em um espetáculo curto, de menos de uma hora, Susana Ribeiro une as três tramas com fidelidade à obra do dramaturgo. Fala comigo doce como a chuva retrata a relação conflituosa de um casal mergulhado numa situação emocional estagnada num rompante de desespero, a mulher tenta buscar em um mundo imaginário uma opção para a realidade asfixiante do quarto onde vivem.
Em O que não foi dito, o autor conta com riqueza de detalhes a longa e silenciosa relação entre uma rica solteirona sulista e a sua fiel secretária. A dama da lavanda se passa num pequeno e decadente quarto de hotel, onde vive uma mulher que acha que seu amante é na verdade um rico proprietário de terras no Brasil.
Essa personagem de A dama da lavanda é, de certa maneira, um rascunho da célebre Blanche Dubois (de Um bonde chamado desejo, uma das peças mais importantes do autor). Fala de uma realidade improvável, mas possível.
Fuga da realidade
A diretora acredita que existem dois pares de temáticas presentes: A dama da lavanda e Fala comigo doce como a chuva se completam, enquanto O que não foi dito tem semelhanças com o prefácio A catástrofe do sucesso. As três peças são ambientadas em quartos, pequenos cômodos, metáfora exata para a sensação claustrofóbica e de conflito existencial vivida pelos personagens.
Queríamos fugir de um espetáculo de esquetes, que fosse partido especifica Susana.
Pus o próprio Tennessee Williams em cena falando dos incômodos do sucesso e apresentando esses personagens que criam realidades paralelas àquelas que vivem. O autor estava à procura de um teatro mais livre e menos emparedado, com mais planos e perspectivas, propício para a criação dessas realidades alternativas. Por isso, fugi do realismo e do naturalismo na encenação.