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Cineasta irlandês anuncia filme sobre Sérgio Vieira de Mello

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Carlos Helí de Almeida, Jornal do Brasil

MARRAKECH, MARROCOS - Confortavelmente instalado nos jardins de um luxuoso hotel da cidade marroquina, o roteirista Em nome do pai, de 1993) e diretor (Hotel Ruanda, de 2004) Terry George é obrigado a interromper a leitura do jornal do dia para conversar sobre um projeto ainda em progresso, o que desagradaria a qualquer outro cineasta. Mas, como o personagem central do filme em questão é Sérgio Vieira de Mello, o funcionário brasileiro das Nações Unidas morto em um atentado ao escritório da ONU no Iraque, em 2003, o irlandês não demonstra o menor sinal de desconforto.

Sérgio esteve à frente de inúmeras batalhas para resolver conflitos bélicos e proteger refugiados de guerras. Era um sujeito carismático, que a vida inteira lutou contra o mal, e acabou pagando por isso. Alguém o descreveu como um cruzamento entre Robert Kennedy (assassinado quando era candidato à Presidência dos EUA) e James Bond. É um grande personagem e não estou medindo esforços para que ele seja conhecido por um público mais amplo exalta ao Jornal do Brasil o diretor, que integra a delegação britânica homenageada pelo Festival de Marrakech.

Salvar o mundo

A idéia de fazer um filme sobre o brasileiro começou a tomar forma depois de um encontro com a escritora americana Samantha Power, autora da biografia Chasing the flame: Sergio Vieira de Mello and the fight to save the world (lançado no Brasil pela Companhia das Letras com o título O homem que queria salvar o mundo), fruto de quatro anos de pesquisas e 400 entrevistas.

Especialista em temas humanitários, Samantha conheceu Mello durante uma tumultuada missão da ONU na Bósnia. Nesse primeiro contato, ele lhe confidenciou que jamais trabalharia para o governo brasileiro, porque seu pai, diplomata, fora cassado pela ditadura militar.

Samantha me falou sobre Sérgio com muito entusiasmo e acabou me contagiando lembra George, notório autor de roteiros e filmes de cunho político, como Mães em luta (1996), inspirado na greve de fome de mulheres contra o tratamento dispensado a seus filhos, militantes do IRA, na prisão.

A idéia é falar sobre os mais trágicos eventos históricos das últimas décadas, como o genocídio na África, a Guerra dos Bálcãs e a Guerra do Iraque, a partir do ponto de vista de um homem que desempenhou um papel fundamental.

Com o livro de Samantha debaixo do braço, George saiu em campo para fazer suas próprias pesquisas para o roteiro. Este ano ele esteve no Timor-Leste, onde o carioca dirigiu por 24 meses a Autoridade de Transição da ONU, até a independência do país, em 2001.

O Timor-Leste é uma das quatro principais locações do longa-metragem, provisoriamente batizado como Sergio, que ainda prevê seqüências na Bósnia, na Tanzânia e no Iraque, além de pequenas cenas no Rio e em Nova York, onde fica a sede das Nações Unidas.

O diretor estima que uma produção desse porte, que demanda tantos deslocamentos, exija um investimento mínimo de US$ 50 milhões. Mas ele e a produtora Miracle Pictures, que tornou possível Hotel Ruanda e Traídos pelo destino (2007), o último filme de George, está buscando sócios fora do círculo dos grandes estúdios americanos, para garantir o controle absoluto sobre o conteúdo e o corte final do filme .

No momento, o cineasta procura um ator de peso para o papel principal, capaz de atrair outros investidores.

A princípio, eu até considerava a possibilidade de escalar um brasileiro para interpretar o Sérgio. Mas, com a constatação de que estamos lidando com um projeto muito caro, ficou claro que um nome internacional é a melhor solução para se chegar a um ator ideal para o papel e o máximo de recursos que pudermos conseguir confessa George, que está escrevendo o roteiro de O plano perfeito 2, continuação do bem-sucedido thriller de Spike Lee, enquanto o orçamento da biografia do diplomata não fecha.

De qualquer forma, o filme do Sérgio é a minha prioridade agora. Não dirigirei nada antes dele.

Além do propósito de fazer um filme sobre um homem e sua luta contra os males do mundo, Sergio vai oferecer, diz o diretor, uma visão menos preconceituosa sobre a ONU:

As pessoas têm uma impressão errada sobre as Nações Unidas. Costumam vê-la como uma loja de debates instalada no Lado Leste de Nova York, uma organização burocrática onde nada é feito, nada é resolvido. Mas, na verdade, há milhares de membros da ONU ao redor do mundo que arriscam suas próprias vidas em nome de causas humanitárias, como Sérgio.