Ricardo Schott, Jornal do Brasil
RIO - A expressão vôo solo é vista com reservas por Toni Garrido. Quatro meses depois de deixar o Cidade Negra, o músico grava seu primeiro disco individual no estúdio Nas Nuvens, com produção de Liminha e lançamento previsto para entre dezembro e janeiro de 2009.
Por hora, já soltou o single Me libertei (releitura de uma canção da dupla soul Tony Bizarro e Frankie Arduini, gravada em 1970 por outro Tony, o Tornado). Politicamente correto, o cantor diz que está tranqüilo sozinho, mas que sempre dividirá tarefas.
Crio coisas novas, mas os músicos traduzem isso com a qualidade e a criatividade deles diz Garrido, hoje acompanhado da banda Flecha Black.
Antes de sair do Cidade, já tinha montado a banda para tocar em lugares pequenos. E queria voltar a uma coisa que eu fazia em bares, que é tocar músicas dos outros.
Garrido afirma que o som do disco vem mais diversificado, mais soul do que propriamente só reggae com canções feitas com Jorge Mautner (Trevo de quatro folhas), o antigo amigo Leleo (Anúncio de jornal), uma regravação de Lô Borges (Tudo que você podia ser) e, ainda em produção, uma parceria com Fausto Fawcett.
Essa é para dar continuidade a Solteiro no Rio de Janeiro, aquele tipo de música sobre a noite carioca. Estamos fazendo ainda diz o cantor, que também prepara Grande amor, com Tiago Santiago, teledramaturgo da Rede Record, que escreveu Caminhos do coração, novela da qual o cantor participou como ator.
Apesar de ter deixado a banda, o Cidade Negra não é página virada. O nome do grupo aparece naturalmente, várias vezes, durante a conversa. A carreira solo já era uma pedra cantada no ano passado. Antes da saída, ele já conversara com a EMI sobre um CD solo, e acabou oferecendo à gravadora mais um álbum do Cidade, Diversão, só com regravações, enquanto não lançava disco.
Pensei em oferecer um novo vocalista, talvez de 21, 22 anos, ao Cidade. Eu ficaria tocando guitarra e compondo, teria outro lugar no grupo. Infelizmente, a idéia não foi aceita e saí diz o cantor.
O baterista Lazão, do outro lado, diz que isso seria inviável para a banda.
Não daria para esperarmos pelo Toni. A gente queria levar a turnê até o fim, mas a idéia dele era se apresentar com a banda quando a agenda deixasse diz.
Justamente por isso, o nome do single de estréia parece ganhar outro sentido. Toni diz que a música lhe foi apresentada pelo amigo Bruno Levinson e que ela foi escolhida por lembrar um fato marcante de sua vida.
Eu imitava o Tornado quando criança, com capa, cabo de vassoura imitando microfone e bota ortopédica recorda o cantor.
Fiquei mais a fim da música quando percebi que ele cantava no limite, com a alma. Cantando bem ou mal, não importava.
A virada na carreira de Toni vem acompanhada de uma renovação no mercado. O disco, independente, será fruto da união de três empresas a Pilastra, de Bruno Levinson, a CD Promo, de Cristiano Pucci (que trabalha com CDs promocionais), e a TG Produção (do irmão do cantor, Ricardo Garrido), que criaram a marca Tora Produções para editar o CD. Levinson diz que o objetivo e fazer algo histórico .
Pela primeira vez, o produto a ser trabalhado não é um disco, é o artista exulta o produtor.
O Toni tem saída no mercado, pode ser usado em comerciais, é um artista multifacetado.
Pucci, por sua vez, ressalta que, ao contrário do relacionamento artista-gravadora, há várias marcas trabalhando ao mesmo tempo:
O Toni hoje é apresentador do Gas sound, da Rede TV, e é um programa do Guaraná Antarctica. Se as gravadoras geralmente excluem os artistas das reuniões de marketing, fazemos questão de que ele vá em todas as nossas.
Garrido, animado com os novos projetos, diz que encontrou nos parceiros a ajuda ideal para um projeto que ele mesmo classifica como hippie :
É algo que não tem mandatário, tem amigos, gente trabalhando comigo afirma o cantor.
Poderia ter ficado numa gravadora normal, mas não senti nenhuma acreditando tanto no trabalho quanto eu mesmo e meus amigos.