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Caroline Abras vira a grande aposta para 2009

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Carlos Helí de Almeida, Jornal do Brasil

RIO - A reação é a mesma cada vez que Caroline Abras se depara com o vestido que trouxe como recordação do set de Se nada mais der certo, de José Eduardo Belmonte:

Rio de felicidade quando abro o meu armário e o vejo lá diverte-se a atriz de 21 anos, ao falar sobre o souvenir do personagem que lhe deu o troféu Redentor de Melhor Atriz do Festival do Rio, entregue na noite de quinta-feira.

Caroline não economiza imagens poéticas para se referir a Marcim, a figura andrógina que mexe com os nervos de todos à sua volta na trama policial de Belmonte, eleito o Melhor Filme de Ficção da maratona carioca.

Ele foi chegando sem pedir licença, me envolvendo, me conquistando e, quando vi, já estava apaixonada por ele. Fazer o Marcim foi uma coisa muito louca, porque parecia que não era eu fazendo o papel, era como se estivesse possuída por ele descreve a jovem paulistana, considerada a grande revelação do festival desse ano.

O Redentor é o ponto mais alto de uma escalada de prêmios que começou em 2006, quando Caroline ganhou o Kikito de interpretação feminina pelo curta-metragem Alguma coisa assim, de Esmir Filho.

No ano seguinte veio o bicampeonato no festival gaúcho, por sua performance em Perto de qualquer lugar, de Mariana Bastos. Em ambos ela vive adolescentes angelicais, doces e delicadas, envolvidas com descobertas próprias da idade. Onde Belmonte teria visto em Caroline um golpista de sexualidade duvidosa como Marcim?

Tenho comigo a impressão de que todo bom ator é capaz de qualquer coisa lembra o diretor.

Quanto maior o desafio, maior a distância dele do personagem, mais ele se supera. Vi na página da Caroline no Orkut a foto de uma cena do curta Perto de qualquer lugar,em que me parecia bem ambígua, densa. Quando nos preparávamos para fazer Se nada mais der certo, resolvi chamá-la para um teste, impulsionado pelo meu lado cientifico e meu lado prosaico. Ficamos impressionados com a concepção dela para o Marcim.

Caroline chegou a duvidar do convite de Belmonte. Depois do susto inicial, viu-se cortando os longos cabelos louros, que iam até a cintura, em busca de uma aparência mais apropriada para o personagem. O teste consistia numa cena com o ator Milhem Cortaz, que faz um travesti na história.

Apelei para o meu irmão e para o meu namorado para achar em mim esse lado masculino que toda mulher tem admite a atriz, que fez uma rápida participação na novela adolescente Malhação, da Globo, em 2005.

Fui para o teste com o cabelo cortado bem curto, com os seios amassados com uma faixa e vestindo um camisetão, parecendo um moleque. Teve gente que olhou para mim e riu. Mas já estava decidida: aquele personagem era meu!

Ginástica olímpica

A determinação profissional começou a mostrar seus dentes por volta dos 13 anos, quando Caroline, veja só, fazia ginástica olímpica.

Eu matava aula para ficar assistindo aos ensaios das peças que eram montadas no meu clube recorda.

No caminho de volta para casa, no ônibus, ficava imitando o que eu tinha visto nos ensaios. Não demorou muito e eu já estava pedindo à minha mãe para me colocar em um curso de teatro, no que ela concordou meio a contragosto, porque achava que aquilo não ia dar certo. Já estava conseguindo soltar os meus leões.

Caroline percorreu mais ou menos o mesmo caminho de todo jovem entusiasmado com a arte de interpretar. Fez teatro amador, inscreveu-se em cursos diversos, estudou com a preparadora (de elenco) Fátima Toledo por dois anos e chegou a ingressar na trupe do Teatro da Vertigem (de linguagem experimental).

Como São Paulo tem um grande mercado em teatro, fui tentando de tudo um pouco: palco italiano, bioenergética, que é voltada para atuação em cinema... Enfim, me enfronhei em diferentes correntes conta a atriz.

Em pouco tempo, Caroline estava circulando entre os nomes mais promissores da nova geração de curtas-metragistas paulistas, como Daniel Ribeiro (Café com leite, também no Festival do Rio), Rafael Gomes (Relicário), Caroline Leone (Dalva), Mariana Bastos e Esmir Filho. Além de prêmios, o encontro com Esmir rendeu uma amizade que dura até hoje.

Tenho muito amor pelo Esmir. Ele me ligou depois da premiação chorando, me chamando de princesa e pedindo desculpas por não estar aqui no Rio emociona-se. Ele brinca que eu serei a protagonista do próximo filme dele. O engraçado é que nós nos conhecemos por acaso. Fui acompanhar um amigo meu, o Diego Torraca (de Café com leite), na seleção de elenco de Alguma coisa assim e acabei pedindo para fazer um teste também. Ele não passou, mas eu sim!

Em breve Caroline poderá ser vista em outros personagens do submundo paulista. Em Augustas, de Francisco César Filho, ela vive uma prostituta que bate ponto no centro boêmio da capital paulista. Também está no elenco de Bellini e o demônio, de Marcelo Galvão, adaptação do romance policial de Tony Bellotto. Mas a experiência com Marcim é incomparável:

O amor que sinto pelo filme do Belmonte é indescritível. Marcim é um momento chave da minha vida. Vai ser difícil encontrar outro personagem tão marcante.