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Mulher de Walter Salles troca fotografia por desenho e pintura

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Clara Passi, Jornal do Brasil

RIO - É com a sutileza que lhe é peculiar que a artista plástica Maria Klabin envereda por um rumo diferente (mas não inédito) em sua produção: onde antes predominavam a fotografia e as caixas de luz, agora reinam absolutos o desenho e a pintura figurativa mídias que a artista de 30 anos já explorava quando estudante.

Mulher do cineasta Walter Salles, mãe do pequeno Vicente, de 2 anos e grávida do segundo filho, Maria inaugurou sexta-feira sua segunda individual na Galeria Silvia Cintra, em Ipanema.

Tanto os cinco painéis de madeira que, apesar de serem pinturas e terem escala de pintura (120 x 180 cm), são comparados pela artista a esboços despretensiosos em folhas de um caderno quanto os 12 pequenos desenhos superdelicados feitos com crayon são marcados pela elegância. Essa palavra serve para definir os traços finos com que ilustra cenas de praia, figuras humanas e objetos do dia-a-dia, bem como o modo como Maria, descendente da colecionadora de arte Eva Klabin, fala da vida e de seu modo de fazer arte.

O desenho nunca, nem por um dia, deixou de fazer parte da minha produção. Sempre começo qualquer investigação pelo desenho, é a forma mais direta e ininterrupta de pensar diz. Uma grande parte do meu trabalho em fotografia explora questões do desenho e da pintura, onde a pintura termina e a fotografia começa. Gosto de pensar que sempre trabalho no limite dessas linguagens.

Estréia na Silvia Cintra

Formada em Belas Artes pela Brandeis University (Massachusetts, Estados Unidos), com mestrado na Saint Martins College of Art and Design, em Londres, Maria expôs individualmente pela primeira vez na Silvia Cintra em 2005. Depois partiu para mostras coletivas e individuais no Centro Cultural Telemar, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Museu Vale do Rio Doce, em São Paulo, bem como em Londres e Buenos Aires.

Tenho mais influências do que poderia listar, mas esses são os livros que atualmente estão empilhados na minha mesa de trabalho: desenhos de George Seurat, Philip Guston, Vija Celmins, uma série de gravuras chamada Drawn from nature, de Ellswoth Kelly, as naturezas mortas de Jean-Baptiste-Siméon Chardin e Chaim Soutinem, sempre uma gigantesca inspiração lista. Sempre usei o que está mais próximo, porque, se pinto, fotografo ou desenho uma praia, não estou necessariamente falando sobre praia. Um trabalho é bom quando ele fala além do que está literalmente ali contido.

É distante a relação que Maria tinha com Eva Klabin, prima-irmã de seu avô, e com a fundação, na Lagoa, criada para abrigar o acervo, considerado um dos mais importantes da arte clássica e que reúne quase mil peças catalogadas, com preciosidades dos quatro cantos do mundo. Resume-se à assistência de curadoria que fez para Márcio Doctors no Projeto Respiração, que levou diferentes nomes da arte contemporânea ao centro cultural, em janeiro.

Era muito criança quando ela morreu. Tenho memórias breves, mas intensas, da imagem dela. Ela me parecia ter uma escala maior do que o resto das coisas.

Maria é lacônica ao comentar sua vida pessoal.

Estar grávida me influencia tanto quanto qualquer outro aspecto do meu cotidiano.

Ao falar de como organiza o cotidiano para acomodar os afazeres de mãe e de mulher de cineasta famoso, recorre às reticências:

Vou vivendo e de alguma forma tudo acontece&