Leandro Souto Maior, JB Online
RIO - Diversos shows, exposições, livros e eventos em geral vem acontecendo desde o ano passado sobre a Bossa Nova, em comemoração aos 50 anos do gênero, e até o fim do ano muitos outros acontecimentos e lançamentos ainda vem por aí. Não é o caso do filme Os Desafinados.
- Essa coisa de Bossa Nova tem muito 'inho'. É barquinho, banquinho, tardinha... tem que dar um sacode nessa bossa! - diz Dico, personagem de Selton Mello no longa, um cineasta que registra a carreira do grupo Os Desafinados.
O diretor Walter Lima Jr. - que também assina o roteiro - garante que o filme 'caiu acidentalmente nesses 50 anos da Bossa Nova'. Na verdade, Os Desafinados já era para ter sido lançado, mas por problemas de verba, só conseguiu ficar pronto para este ano. Ele conta que o filme é baseado em diversas histórias reais que ele foi acumulando ao longo de sua vida.
- Quando comecei a fazer cinema, queria documentar tudo aquilo que eu estava vivendo, então este filme foi se acumulando dentro de mim ao longo desses anos - disse Lima Jr. após a exibição do longa em sessão especial na Universidade Estácio de Sá. - Eu morava em Niterói e estava sempre com músicos da cidade, como Sérgio Mendes e Tião Neto. Lembro que ficava impressionado com as histórias deles, que tocaram no histórico show da Bossa Nova em Nova York. Muitas frases no filme são coisas que eles diziam - revela.
Até mesmo o desaparecimento de um dos integrantes d'Os Desafinados em Buenos Aires é baseado em fatos reais, no caso, o músico Tenório Jr.
Com Rodrigo Santoro, Claudia Abreu, Alessandra Negrini, ngelo Paes Leme e o músico Jair Oliveira no elenco, Os Desafinados conta a história de um grupo que vai a Nova York tentar a sorte. Mas é mais que isso: é um filme sobre a amizade dos personagens.
Rodrigo Santoro é o pianista, e aparece dublando os acordes dissonantes do grupo, sem que sua mão apareça nas teclas do instrumento. Em um momento apenas ele surpreende, quando é mostrado tocando de verdade uma música, a única que aprendeu depois de muitas aulas: um prelúdio de Chopin misturado com Insensatez, de Tom Jobim. Claudia abreu também não toca nenhum instrumento, mas na tela aparece tocando flauta. Ela também teve aulas e aprendeu a dublar a 'intenção' do instrumentista.
- Na natureza deles todos existe uma musicalidade forte. No fim dos ensaios e gravações, era comum rolar uma jam session muito louca! Eles querem inclusive tocar e formar uma banda - conta Walter Lima Jr., ele mesmo um apaixonado por música. - Existe um músico dentro de mim que foi atropelado pelo cinema!
Enquanto alguns atores tiveram que estudar para aprender a tocar, o músico Jair Oliveira não precisou de muito esforço para atuar, já que passou boa parte da infância na frente das câmeras, desde quando integrava o grupo infantil Balão Mágico.
O papel principal, do personagem Joaquim, vivido por Rodrigo Santoro, seria inicialmente de Murilo Benício, que não pôde participar por conta de sua demanda de trabalho na TV.
- Também percebi que ele não estava muito a fim de aprender a tocar um pouco de piano. Disse a ele na boa que iria procurar outro ator. Ele assistiu o filme em uma pré-estréia e disse que adorou o Rodrigo Santoro, o que me deixou muito confortado. Estava preocupado com a reação dele - conta o diretor.
Os Desafinados estréia nesta sexta-feira nos cinemas.