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Parábola zumbi de Jim Jarmusch dá início a Cannes

REUTERS/Eric Gaillard -
Diretor Jim Jarmusch em entrevista à imprensa
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CANNES, França (Reuters) - Com um elenco glamouroso de mortos-vivos devoradores de carne, como Iggy Pop, o cineasta norte-americano Jim Jarmusch inaugurou o Festival Internacional de Cinema de Cannes de 2019 com uma crítica aguda à sociedade norte-americana, mas o frenesi zumbi não teve a contundência que alguns críticos esperavam.

A comédia foi o pontapé inicial do festival, no qual competirá pela Palma de Ouro, o prêmio principal, com as produções mais recentes de Quentin Tarantino e Pedro Almodóvar e uma leva de filmes de diretores jovens e novatos.

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Diretor Jim Jarmusch em entrevista à imprensa (Foto: REUTERS/Eric Gaillard)

Situado em uma cidade pequena qualquer cujos moradores começam a sucumbir a um apocalipse zumbi, "The Dead Don't Die" debochou ao mesmo tempo dos hipsters, da política dos Estados Unidos e de um mundo materialista e viciado em smartphones.

Aqueles que negam a mudança climática tampouco escaparam.

"Ver a natureza se deteriorar em um ritmo inédito na história é, para mim, aterrorizante", disse Jarmusch, com seus tradicionais óculos escuros, em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira.

Bill Murray, colaborador de longa data do diretor do "Flores Partidas", Adam Driver e Chloë Sevigny atuam como policiais que combatem o exército crescente de mortos-vivos, e a pop star Selena Gomez e a atriz Tilda Swinton também integram o elenco estelar.

Apesar de ser um queridinho dos amantes do cinema de arte dos EUA e veterano de Cannes, Jarmusch recebeu críticas mistas – houve quem lamentasse o ritmo arrastado do filme, apesar das piadas afiadas.

Repleto de referências cinematográficas engenhosas, inclusive ao clássico zumbi "A Noite dos Mortos-Vivos", de George Romero (1968), o filme também recorre ao artifício de mostrar os atores debatendo o enredo.

Mas alguns críticos se incomodaram com os momentos de autoindulgência.

"O filme de Jarmusch corre o risco de sucumbir ao seu próprio zumbismo: um torpor narcótico de autocongratulação", escreveu Peter Bradshaw, do Guardian.

Outros disseram que Jarmusch fez pouco para renovar um gênero muito explorado, apesar de gracejos como o zumbi interpretado por Iggy Pop adorar café ou uma horda de mortos-vivos percorrer as ruas em busca de uma conexão de Wi-Fi terem provocado risos.

"The Dead Don't Die" também mira uma sociedade apática e incapaz de se mobilizar contra a mudança climática, mas Jarmusch disse que sua mensagem ambientalista não pretendeu ser excessivamente pessimista ou atribuir a culpa aos políticos.

Por Sarah White

(Reportagem adicional de Hanna Rantala)