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Filmes brasileiros mexem com os brios de Cannes na reta final do festival: "O traidor" e "Sem seu sangue"

Divulgação -
'O traidor'
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Um protesto sobre a importância do ensino público no país marcou o fim da projeção de “Sem seu sangue”, drama dirigido pela estreante Alice Furtado, na Quinzena dos Realizadores do 72º Festival de Cannes, onde o delicado longa-metragem sobre uma relação de uma jovem com um rapaz hemofílico foi saudado como uma das revelações de um ano apinhado de diretores autorais. A exibição de Alice aconteceu minutos depois de uma calorosa salva de aplausos para um thriller de máfia com tintas políticas, parcialmente rodado no Rio de Janeiro, com a atriz Maria Fernanda Cândido em seu elenco, que está na competição pela Palma de Ouro, numa dobradinha entre Brasil e Itália: “Il traditore” (“O traidor”), de Marco Bellocchio. O vigor de sua narrativa, centrada na delação que o criminoso Tommaso Buscetta fez contra seus parceiros de Cosa Nostra, nos anos 1990, pode bagunçar o resultado da premiação da Croisette, a ser decidida por um júri presidido pelo cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu (“Babel”). Pierfrancisco Favino, que interpreta Buscetta, tem tudo para conquistar a láurea de melhor ator. E Bellocchio pode levar a Palma para Roma, uma vez que seu longa se impõe como um adversário à altura do favoritismo do espanhol Pedro Almodóvar e seu “Dor e glória”. Fala-se de um possível (e merecido) prêmio para Alice, vindo da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica, a Fipresci.

“As novas gerações trazem dentro de si uma intensidade que o mundo adulto aprende a perder ao longo da vida e que a gente precisa, como jovens adultos, precisa redescobrir, como a importância do amor”, disse Alice.

Macaque in the trees
'Sem seu sangue' (Foto: Divulgação)

Realizadora do belíssimo curta “Duelo antes da noite” (2010), ela estreia na direção de longas com “Sem seu sangue” abordando a relação entre a introspectiva Silvia (Luiza Kosovski) com um adolescente hemofílico, Artur, papel que pode consagrar o ator Juan Paiva. Seu nome foi cercado de elogios na projeção da Croisette. “Mesmo com um problema em sua saúde, Artur se joga na vida, anda de skate, faz tudo”, disse Juan, cercado na tela por talentos como Digão Ribeiro, Silvia Buarque e Lourenço Mutarelli.

Já o longa de Bellocchio, um dos destaques da competição oficial, valoriza brasileiros como Luciano Quirino e Jonas Bloch na trupe de atores que costura a relação entre Buscetta e Cristina, papel de Maria Fernanda Cândido. “O Brasil tem papel central no filme, pois Tommaso esteve lá em dois momentos distintos, indo à prisão para uma tortura violenta. Mas eu condensei muito dos fatos, sem cair em um grau de sociologia do passado”, disse Bellocchio, que teve a parceria dos produtores paulistas Caio e Fabiano Gullane para fechar a equação financeira deste projeto de 9 milhões de euros. “O meu interesse aqui é a matéria trágica de um homem que entregou seus parceiros ao notar que a Cosa Nostra abriu mão de suas tradições”.

Macaque in the trees
'O traidor' (Foto: Divulgação)

Esta noite, “Boyz’n the hood” (1991) vai ser exibido nas areias do Cinéma de la Plage, em tributo ao realizador John Singleton, morto no dia 28 de abril, aos 51 anos. Na sexta, a cidade recebe Sylvester Stallone para uma homenagem pelo conjunto de sua trajetória, iniciada em 1970, com direito a projeção de cópia inédita de “Rambo – Programado para matar” (1982).

No sábado, o Festival de Cannes.72 chega ao fim com a entrega de prêmios e a exibição da comédia motivacional “Hors norme”, com Reda Kateb e Vincent Cassel. Já as láureas da Un Certain Regard serão entregues nesta sexta-feira, tendo “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, do cearense Karim Aïnouz, como favorito.

Divulgação - 'Sem seu sangue'
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