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Crítica - A grande dama do cinema: Humor negro com pitadas de cinema clássico

*** - Bom

Divulgação -
Graciela Borges brilha com ares de Norma Desmond
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O cinema argentino é notável na habilidade dos roteiros e dos diálogos bem construídos. Um exemplar é “A Grande Dama do Cinema”, do premiado Juan José Campanella. O diretor do oscarizado “O Segredo dos Seus Olhos” realiza uma comédia dramática sobre o cinema com elenco de veteranos.

Graciela Borges é Mara Ordaz, uma grande estrela dos anos 1960 que vive isolada numa mansão com ares de realeza decadente. Ela divide o espaço (ou cenário) com marido Pedro (Luis Brandoni) ex-ator frustrado que virou pintor e escultor sem sucesso e abriga o diretor de cinema Norberto (Oscar Martínez) e o roteirista Martín (Marcos Mundstock). Todos estão aposentados e não exatamente por desejarem isso. O quarteto tem conexões familiares e profissionais, mas apenas toleram a companhia de um e do outro. A rotina da casa é quebrada com a chegada de Bárbara (Clara Lago) e Francisco (Nicolás Francella), dois corretores imobiliários que promovem a idolatria de Mara Ordaz para comprar a confiança dela e tentar vender a mansão. A investida dos corretores inicia uma guerra. Pedro, Norberto e Martín vão resistir para continuarem no imóvel. Os métodos de batalha envolvem certos bichinhos peçonhentos que habitam a casa velha.

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Graciela Borges brilha com ares de Norma Desmond (Foto: Divulgação)

O culto de Mara Ordaz ao passado de glória é marcado por uma estatueta dourada, muito semelhante ao Oscar, no centro do salão principal. A relíquia está num pedestal para que todos os visitantes possam visualizar no primeiro olhar o símbolo do sucesso dela. Tudo evoca “Crepúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder, desde a mobília antiga e a escadaria suntuosa até o figurino de Mara, incluindo turbantes que a Norma Desmond de Glória Swanson usaria com certeza.

A reclusão dos quatro tem motivos que serão apresentados ao longo do filme. O maior prazer é que a trama acontece como se eles estivessem realizando um filme. O grupo discute possibilidades de roteiro, monta cenas, usa animais e adereços para criar armadilhas. Metalinguagem e ferramenta de resistência aos especuladores imobiliários.

Campanella exerce toda a excelência de encenador e conta com elenco de primeira linha. Além do brilho habitual de Oscar Martínez, temos Graciela Borges dominado a cena em grande momento da carreira, após o desempenho arrasador de “A Quietude”. O filme tem apenas um deslize no tempo de duração, que poderia ter 20 minutos a menos. No mais, um prazer de humor negro com tempero clássico.

Tags:

cinema | crítica | dama