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Grandes e melhores momentos

COTAÇÃO: * * * (Bom)

Divulgação -
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Para os fãs de Jia Zhang-Ke, um dos maiores cineastas orientais contemporâneos, 'Amor até as Cinzas' provoca relações ambíguas. É um filme novo do grande autor chinês, então já é um projeto que merece atenção, a surpresa é constatar que o filme é uma espécie de passeio pela filmografia dele como um todo, um 'pout pourri' com os melhores momentos narrativos de Jia, assimilando um pouco de cada parte de sua filmografia em passagens significativas. A reflexão política, o deslocamento desordenado das cidades causado pelo avanço, o romance trágico que atravessa os anos, a característica de saga, tudo isso é oferecido no produto novo indo além da referência temática.

Jia continua implacável em situar os seres a mercê do desenrolar dos acontecimentos, até causados pelos personagens mas que fogem de seu controle e promovem um futuro desconhecido. Aqui, um romance fora da lei é interrompido com a prisão de Qiao, que cumpre pena por um crime cometido pelo seu grande amor. Ao sair da cadeia descobre que literalmente tudo mudou a sua volta, incluindo os sentimentos de seu amado. Jia cria, a partir da simplicidade dessa premissa, uma parábola moral sobre a culpa e volta a debater as curvas sociais determinadas pelo Estado nas relações humanas. Ancorado pela sempre superlativa Zhao Tao, o filme tem solidez narrativa e um novo e espetacular comando de Jia.

O trabalho de Eric Gautier ('Diários de Motocicleta' e 'Na Natureza Selvagem') complementa os ângulos compreendidos por Jia, que também volta a falar sobre a solidão nos grandes centros e uma melancolia generalizadas. Os planos abertos do filme são primorosos, e ao menos uma cena nasceu clássica, que compreende os motivos que levam a prisão da protagonista. Um Jia requentado ainda é melhor que 70% da programação de qualquer ano.

Tags:

cinema | crítica | filme