Fotografia escura, vilões macabros e cenas em que a porrada rola solta distanciaram os filmes de super-heróis da DC do Universo Cinematográfico Marvel, recheado de piadinhas e muito mais voltado para a diversão em família.
Coleção de filmes inspirados nos quadrinhos da Marvel, ele foi capaz de unir apelo popular à aprovação da crítica.
Demorou um pouco, no entanto, para o Universo Estendido DC perceber que não estava agradando. "O Homem de Aço" (2013), "Batman vs Superman: A Origem da Justiça" (2016), "Esquadrão Suicida" (2016) e "Liga da Justiça" (2017) amargam entre 27% e 56% de aprovação no site Rotten Tomatoes, agregador de críticas de cinema online.
Foi somente com "Mulher-Maravilha", em 2017, que a Warner Bros., estúdio por trás da marca, começou a mudar o jogo. Um maior investimento na fantasia e na aventura, em detrimento da ação, tirou do Universo Estendido DC o selo de "rotten" (o título é dado pelo Rotten Tomatoes para filmes com até 60% de críticas negativas, nível para o qual nenhum dos 21 filmes do universo da Marvel caiu).
"Mulher-Maravilha" agregou impressionantes 93% de avaliações positivas e, apesar de não ser igualmente bem sucedido, "Aquaman" (2018) conseguiu ser aprovado por 65% dos críticos. Agora, outro longa da DC surpreendeu os fãs ao conquistar também 93% de recomendações.
Inspirado em série de quadrinhos de 1939, "Shazam!" acompanha um garoto de 14 anos que recebe poderes de um feiticeiro. Com as novas habilidades, o jovem Billy Batson consegue se transformar em um adulto superpoderoso.
Ironicamente, o nome original do herói, quando foi criado pela Fawcett Comics, era Capitão Marvel. Ao longo dos anos, batalhas sobre direitos autorais e a venda do personagem para a DC Comics o transformaram em Shazam.
Com trama que lembra "Quero ser Grande" (1988), "Shazam!" não deixa de fora piadas infantilóides, situações típicas de filmes "coming of age" (sobre a adolescência) e uma mensagem edificante.
Mas para o protagonista do longa, essas características não foram escolhidas especialmente para a adaptação cinematográfica.
"A história de Shazam é originalmente leve, então é claro que o filme tem um tom igualmente leve", diz Zachary Levi.
Descoberto pela série de comédia "Chuck", o ator tem vasta experiência no ramo de super-heróis. Seis anos antes de vestir o macacão vermelho e amarelo do alter-ego de Billy Batson, Levi fez um pequeno papel em "Thor: O Mundo Sombrio" (2013) e, mais tarde, o reprisou em "Thor: Ragnarok" (2017). Na saga da Marvel, ele vivia um guerreiro da terra mitológica Asgard.
"Eu tive a honra de estar no universo da Marvel, embora eu tenha sofrido uma morte rápida e sem cerimônias. Mas se eu não tivesse sido morto, eu não poderia renascer no universo DC", diz.
Diplomático, Levi desvia de comparações, mas acredita que a Marvel sacrificou particularidades de alguns heróis em prol de seu universo compartilhado.
"Eu acho que a DC está tentando se manter fiel aos seus personagens e ao tom dos quadrinhos", comenta sobre a roupagem mais sombria de filmes como "Batman vs Superman".
"A Marvel conseguiu criar um universo no qual todos vivem juntos, o que é incrível, mas às vezes você acaba abrindo mão e comprometendo detalhes de um personagem específico para poder encaixá-lo no resto da coisa."
Ao ser questionado sobre a possibilidade de Shazam compartilhar as telas com a Liga da Justiça, Levi é reticente.
As recentes tentativas de reiniciar o Universo Estendido DC e escalar novos atores para papéis vistos há pouquíssimo tempo nas telonas, como o do próprio Batman, certamente dificultam a interação entre os heróis.
Com direção de David F. Sandberg e coestrelado por Mark Strong, Asher Angel e Jack Dylan Grazer, "Shazam!" está em exibição nos cinemas.