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Crítica - Happy Hour: Quase um tango

*** (Bom)

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Tem um gosto de Barthes e de seus “Fragmentos de um discurso amoroso” nesta narrativa que promove uma crônica dos costumes afetivos de um Rio de Janeiro em convulsões morais em sua estrutura de poder: os desgovernos do cotidiano, numa troca eleitoral, são analisadas em simetria à bagunça no coração de seus protagonistas. Coprodução Brasil e Argentina, na fronteira inflamável entre os verbos “querer” e “poder”, esta ciranda de reviravoltas amorosas põe o galã de Buenos Aires Pablo Echarri (de “Plata quemada”) como um professor de Letras numa Urca em época de eleição. Letícia Sabatella -uma presença rara na telona, mas sempre luminosa - vive a mulher do educador: uma política assolada pela notícia de que o marido quer “abrir” a relação.

A direção do estreante Eduardo Albergaria esbanja segurança e poesia em seu olhar sobre fraturas nas tradições da vida a dois, refinado plasticamente pela fotografia de Marcelo Camorino (de “Nove rainhas”). Existe o tom palavroso do cinema classe média dos nossos hermanos, sobretudo dos (obrigatórios) filmes de Juan José Campabella (“O filho da noiva”), mas existe uma psicanálise à carioca, com um quê de Domingos Oliveira (e seu “Separações”), no estudo das neuroses locais. Letícia incendeia a tela com as inquietudes de uma mulher dividida entre as múltiplas cobranças da vida, do amor e de seu duplo indelicado, o desamor, que dá o tom deste “quase tango”.

Tags:

cinema | crítica