"O Felipe Scovino teve uma participação importante. Ele trouxe uma questão do corpo no trabalho, objetos de osso, couto pedra, como se fossem uma coisa só", conta Daniela, que dez à luz os quadros da mostra durante a gestação mais recente, da filha Stella, hoje com oito meses. "Tenho uma relação com a Mul.ti.plo desde 2011. O Maneco [Müller] e a Stella [Ramos, donos da galeria] passavam lá no meu ateliê e acabaram fazendo esse novo convite", resume ela, também mãe de Paloma, de três anos. "Nunca parei para pensar se a gestação influenciou esse ciclo atual, mas creio que si. Tudo que a gente vive influencia o que se produz".
Os 25 trabalhos de "Las equivocaciones se págan" foram escolhidos dentre uma centena de desenhos e pinturas desenvolvidos no ateliê, em Copacabana. "Optei pela figuração, uma linguagem que é um pouco diferente", conta, sobre os pequenos formatos, de casas e igrejas a figuras humanas, em nanquim e pigmentos.
A opção pela pesquisa gradativa explica o tempo dispendido para ir das cores únicas à fusão, assim como a visão pessoal que Daniela Antonelli descreve: "a cor é uma coisa perigosa, ela pode ser uma coisa muito espetaculosa", avalia a artista, de 37 anos, que teve formação "no ciclo básico para qualquer carreira mais voltada a artes visuais e design", em Paris, em 2003. "Então, pensei assim: vou colocar algumas regras, para formar uma linguagem minha. Assim, primeiro, vieram vermelho, azul e preto para entender a potência de cada cor, o que cada uma podia me dar. Comecei a fazer somente ponto e traço, em papel vegetal, em trabalhos monocromáticos. Passei quase dez anos pesquisando as cores primárias individualmente. Azul, vermelho, amarelo e preto. Só de uns três anos para cá, passei a misturar", narra.
Outro ineditismo é a diluição da tinta nanquim, dentro do próprio processo de fusão das cores. "É uma coisa nova para mim, que nunca havia diluído nanquim com nada. Usei mais de duas, três cores por vez". O design gráfico influencia a escolha pelo nanquim e pelo papel-algodão como base dos quadros. "Venho do desenho. O papel-algodão é um que a gente usa bastante, de bastante qualidade, sem contar que já tenho muito no ateliê, então a parte prática também conta. Já o nanquim tem uma alta fixação, boa especialmente com a caneta de pena que os arquitetos usavam", avalia Daniela, que combina com bom contraste os traços fortes em preto (e, às vezes, vermelho) à variedade de cores mais diluídas, fundidas e intercaladas. Uma estreia certeira.
DANIELA ANTONELLI - LAS EQUIVOCACIONES SE PAGÁN
MUL.TI.PLO. Rua Dias Ferreira, 417/206. Tel.: 2259-1952. Quinta e sexta, das 10h às 18h30. Sábados, de 10h às 14h. Até sábado, 9 de março. Entrada gratuita.