Um dos maiores fiascos deste início do ano nos EUA, dada a expectativa em torno da união dos talentos de Matthew McConaughey e Anne Hathaway, "Calmaria" parte de uma premissa que surpreende (o rol de perigos que se desenha em torno de um pescador pode ser fruto de uma realidade paralela), mas que desaponta sob uma realização, sem qualquer sintonia com o filão do suspense e o da fantasia. Steven Knight é um diretor em formação, ainda cru, que ganhou sinal verde da indústria audiovisual após ter enervado plateias com o roteiro de "Senhores do crime" (2007).
Mas essa mesma indústria esquece que, por trás de um script bom daqueles havia um cineasta da tarimba de David Cronenberg, que encapava as situações escritas com sua plasticidade autoral. Aqui, não: Knight dirigiu um bom filme, "Locke" (2013), com Tom Hardy, e, de resto, só errou. Aqui, o erro está na sua inabilidade em administrar as cartilhas do noir e partir delas para o tom mais fantasioso de "Serenity", título original deste thriller, decalcado de "Pacto de sangue" (1944). Hathaway é a femme fatale que pede a um amor de ontem (McConaughey, sempre afiado) para se livrar do marido abusivo, jogando-o de seu barco. Mas algo de irregular pode estar por trás desse desejo dela.(R.F.)