Autor de sucessos como "Casa no campo", com Zé Rodrix, e "Rua Ramalhete", com Ney Azambuja, o músico Tavito morreu ontem, em São Paulo, vítima de um câncer no pescoço, de acordo com a família. Ele estava internado no hospital Sancta Maggiore. Seu corpo será cremado hoje, às 11h, no cemitério da Vila Alpina, depois de ser velado no Cemitério do Araçá, também na capital paulista.

Nascido em 26 de janeiro de 1948, em Belo Horizonte, Luis Otávio de Melo Carvalho integrou o movimento mineiro "Clube da Esquina". Instrumentista, após ganhar seu primeiro violão aos 13 anos, ele conheceu, em 1965, o poeta e também compositor Vinicius de Moraes, que apreciou seu estilo e o convidou a participar de suas apresentações em Belo Horizonte.

Na mesma época, fez contato com Milton Nascimento e outros músicos que começavam a despontar na cena mineira, como os guitarristas Nelson Angelo e Toninho Horta.

Em 1969, ele participou do Festival Universitário, da TV Tupi, defendendo "Terça-feira", com Werther Jacques e Antonio Gil.

No ano seguinte, passou a integrar o grupo Som Imaginário, a convite de Milton Nascimento, que formava uma banda fixa para acompanhá-lo em seus shows. Tavito tocava violão e fazia vocais, com Wagner Tiso (piano/órgão), Robertinho Silva (bateria), Luís Alves (baixo), Zé Rodrix (órgão/flauta/vocais), Frederyko (guitarra) e Laudir de Oliveira - depois, Naná Vasconcelos (percussão).

Enquanto o Som Imaginário mudava de formações, tornando-se uma banda independente de Milton, gravando álbuns com músicas próprias, Zé Rodrix (1947-2009) deixava o grupo em 1971 e lançava "Casa no campo", composta por ele em parceria com Tavito e que venceu o Festival da Canção de Juiz de Fora naquele ano. Com seu elogio ao estilo de vida bucólico, distante da então crescente agitação urbana, "Casa no campo" foi considerada uma precursora do chamados "rock rurais", que tornariam populares naquela década, como o trio Sá, Rodrix e Guarabyra, que o parceiro passaria a integrar nos dois anos seguintes - e passou a ser dupla após sua saída.

A regravação de Elis Regina (1945-1982) no auge da carreira ampliou ainda mais o sucesso de "Casa no campo".

Também durante os anos 1970, Tavito fez sua transição para o mercado publicitário, começando a atuar como compositor de jingles e trilhas sonoras. O primeiro convite veio do publicitário José Scatena (1918-2011) e incluiu sua primeira mudança do Rio de Janeiro para São Paulo, em 1972. Dois anos depois, voltou para o Rio, trabalhando para diversas produtoras de jingles, até fundar a sua própria empresa do ramo, a Zurana Criação e Produção.

Na mesma década, também produziu discos de artistas como Marcos Valle e os parceiros São & Guarabyra.

Seu primeiro álbum como cantor solo, nomeado simplesmente "Tavito", saiu em 1979, pela gravadora CBS, com o sucesso "Rua Ramalhete", em que ele lembrava o Clube da Esquina e a admiração mútua pelos Beatles. O disco também trazia "Começo, meio e fim" - outra parceria com Ney Azambuja - e "Longe do medo", que ele compôs com Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza, entre outras.

Tavito gravou outros dois álbuns solo, além de um compacto simples, antes de se voltar totalmente para o mercado publicitário, a partir de 1992, fundando a produtora TavMusic. Logo em 1994, deu sorte com "Coração verde e amarelo", que fez com letra de Aldir Blanc e se tornou jingle das transmissões de TV da Copa do Mundo - a primeira que o Brasil viria a vencer depois de 24 anos.

Na última década, Tavito voltou a gravar, fazendo mais dois álbuns - o mais recente, "Mineiro", saiu em 2014. Ele vinha participando do show coletivo "Nós do rock rural", com os parceiros Guarabyra, Tuia Zé Geraldo e Vignini. O show que eles haviam marcado para o último dia 17, em São Paulo, precisou ser cancelado já em função de seu tratamento.

Ele deixa a mulher, Celina - também sua parceira em diversos jingles - e a filha, Júlia.

Entre os artistas que gravaram músicas de sua autoria estão Erasmo Carlos, Zé Ramalho, Zizi Possi, Amelinha, Roupa Nova e Ronnie Von.