O galpão de uma antiga fábrica no 11.º arrondissement de Paris guarda uma das mais estonteantes experiências artísticas em tempos digitais. Paredes de 10 metros de pé-direito recebem, a partir desta sexta-feira, 22, até 31 de dezembro, projeções de todas as obras importantes de Vincent Van Gogh (1853-1890). Como aconteceu com a exposição sobre o pintor austríaco Gustav Klimt, que inaugurou o Atelier des Lumières, em abril do ano passado, a mostra agora sobre o holandês tem tudo para atrair filas de dobrar quarteirão.
O trabalho com as obras de Van Gogh levou um ano para ficar pronto. Segundo Bruno Monnier, presidente do Culturespaces, produtor da exibição, a riqueza cromática, as linhas e os motivos do holandês são perfeitos para uma exposição imersiva, como é chamado o show de luz que os 140 projetores de alta definição espalham por 3.300 metros quadrados de área.
A ideia é mostrar os principais trabalhos do prolífico artista - estima-se que Van Gogh pintou mais de 2 mil obras em dez anos de produção. Para acompanhar, a trilha vai de Miles Davis, Nina Simone e Janis Joplin a Puccini, Vivaldi e Brahms.
A exibição começa mostrando como o pintor desenvolveu sua paleta de cores e logo passa para sua estada na Provença, já no fim da vida. Como um choque para mostrar o quanto a técnica do artista evoluiu em um curto período de tempo, na sequência são mostradas suas primeiras pinturas, como Os Comedores de Batata, de 1885, em tons mais sombrios, ainda influenciado por sua vida na Holanda. "Queríamos mostrar o poder criativo de Van Gogh, para que o público pudesse se aproximar dele de uma forma sensorial, mais do que cronológica", diz o diretor artístico, Gianfranco Iannuzzi.
Irmãos
Os Girassóis e sua série, pintados em Arles (França) em 1888, logo cobrem todas as paredes (hora das fotos!), seguidos pela produção feita durante sua estada em Paris e a obsessão com Montmartre, onde viveu com o irmão mais novo e grande apoiador, Theo.
Lá, em contato com a arte de Paul Gauguin (1848-1903) e Toulouse-Lautrec (1864-1901), entre outros, suas obras passam a ser mais coloridas.
Pausa para a relação entre os irmãos: de extrema importância para o mais velho, Theo ajudou Van Gogh durante toda a vida - e morreu menos de um ano depois do suicídio do pintor. A intensa correspondência entre os dois também é projetada nas paredes da galeria.
A estada em Arles, na Provença, traz algumas das produções mais importantes do gênio holandês, como Terraço do Café à Noite, de 1888, e O Quarto em Arles, imortalizado por suas pinceladas em outubro do mesmo ano. Noite Estrelada, obra que ele pintou em 1889 da janela de seu quarto no sanatório de Saint-Paul - e que dá nome à exposição em Paris -, finalmente enche a sala do Atelier des Lumières de azul, numa sequência que inclui a também deslumbrante Noite Estrelada sobre o Ródano (1888).
Por fim, os famosos - e variados - autorretratos de Van Gogh fecham a exposição.
Oriente. A arte japonesa, uma das influências de Van Gogh, aparece em uma exibição complementar, vista na sequência. A ideia de Dreamed Japan: Images of the Floating World, idealizado pelo Danny Rose Studio, de Paris, é levar o visitante para um mundo colorido de gueixas e samurais.
Não há limite de tempo para ficar por lá, por isso, é possível ver as duas exibições quantas vezes quiser, num "looping" até cansar. Um lembrete para quem estiver por Paris: compre o ingresso antes, pela internet, pois as filas são grandes e chegar lá não é garantia de entrar.
Por fim, se depois de invadir o mundo de Van Gogh o visitante quiser ver pelo menos parte das obras "reais", vale passar pelo Museu dOrsay, onde estão pinturas emblemáticas do holandês, como uma das versões de O Quarto em Arles e Noite Estrelada sobre o Ródano. Como afirma Bruno Monnier, produtor da exposição de luzes, "a proposta é oferecer ao público outra abordagem sobre Van Gogh, como um complemento daquela dos museus".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.