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Da boca do lobo ao etéreo

Criolo lança duas faixas em turnê inédita no Rio com novo formato musical

Divulgação -
Criolo
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Criolo é brasileiro, e como todo brasileiro, ele se apresenta no rap, no samba e, agora, num híbrido eletrorgânico que dá novo formato ao seu repertório musical. É assim que ele justifica sua transição estética em "Etérea", novo single lançado na semana passada, e que é destaque da nova turnê do cantor no Rio, que acontece hoje e amanhã, às 22h, no Circo Voador, na Lapa.

"Acontece que eu sou brasileiro. O rap nacional me ensinou a rimar e a entender a junção das palavrinhas; entender o que é o suor de subir no palco. Em mais de dez anos de carreira, o que não tem como mudar é que eu vou estar sempre escrevendo e cantando o que o meu coração está pedindo. O que mudou é que eu não sei nada da vida mesmo. Quando a gente é jovem, a gente acha que sabe", declarou Criolo, aos 43 anos.

O cantor que já transitou por vários estilos musicais, desde o primeiro lançamento em rap, com "Ainda há tempo" (2006), e seu último e quarto álbum em samba,

"Espiral de ilusão" (2017), arrisca um terceiro movimento no eletrônico com batuques brasileiros, um híbrido musical com produção de Daniel Ganjaman, em parceria inédita com os multi-instrumentistas Bruno Buarque e Dudinha. Segundo ele, é uma banda nova, que começa do zero "com esse novo momento que estamos vivendo". "Tudo tem um arranjo novo. Tem um tanto de música que eu não cantava em show por causa da estética, e que agora eu vou matar a saudade, como 'Bogotá'". disse.

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Criolo faz dois shows no Circo Voador, hoje e amanhã (Foto: Divulgação)

"Etérea" conta com videoclipe, making of e depoimentos coletivos e individuais, sob a direção de Gil Inoue e Gabriel Dietrich. Tino Monetti e Pedro Inoue trabalham a criação e comunicação do artista desenvolvendo o universo da música em torno da representatividade, tendo como protagonistas performers ligados a coletivos dentro do cenário cultural da diversidade sexual em São Paulo. O clipe traz os dançarinos Ákira Avalanx (Coletivo House of Avalanx), D'Avilla (Popporn/Festa Dando), Fefa (Animalia), Flip (Coletivo Amem), Juju ZL e Kiara (Batekoo), Transälien (Marsha Trans e Coletividade Namíbia) e Zaila (House of Zion), e tem a assinatura de Fred Siewerdt na fotografia.

Mas não é só isso. O single tem muito mais do que o protagonismo do mundo LGBTQIA . Criolo transfere a criação, concepção e processo de maturação do novo experimento para os coletivos que aprovaram e desaprovaram a construção de todo o projeto. Em seus agradecimentos no Youtube, que já tem mais de 280 mil visualizações em uma semana, está o nome do ex-deputado federal Jean Willys, que renunciou ao cargo político e deixou o país sob ameaças.

"Etérea foi uma imersão de aprendizado absurda. Veio de uma vez só. Quando ela veio, eu procurei pela minha equipe e, depois, pelos coletivos. Eles falam e a gente aprende. Eu pedi licença para apresentar a música. Cada passo dado era sempre procurando pelo feedback dos coletivos. A primeira versão tinha outro nome. Dentro desses encontros, ela mudou. Foi mais de um ano e meio desenvolvendo esse projeto com respeito e carinho", conta.

Depois de "Boca de Lobo", música que batiza sua atual turnê, Criolo retoma com mais uma letra de posicionamento político. Não existe mais surpresa com o tom crítico do artista, mas com relação ao seu estilo musical. Não se sabe ainda se "Etérea" e "Boca de Lobo" farão parte de um mesmo álbum. "Vou seguindo o coração e vou indo. Tem um monte de coisas acontecendo. Tudo é poesia. Eu não sei o que vai ser de música comigo", disse o cantor ao desviar das expectativas de lançar um novo álbum de retorno ao rap.

"Eu sou um aprendiz eterno do rap, sobretudo do rap do Brasil que sempre em seus textos contundentes e batidas fortes expressa o sentimento de um povo. A crítica social me guia esteticamente e na intenção também", completou Criolo que não se permite esquecer da sua origem pobre, filho de empregada doméstica, a Dona Vilani, e de metalúrgico, o cearense Cleon Gomes.

Em meio ao importante debate sobre a criminalização da homofobia no país, e com a abertura das bandas "Quebrada Queer" e do afrofuturista "Novíssimo Edgar", Criolo afirma que a turnê "veio abraçar e receber o abraço do Rio, e, ao mesmo tempo, fazer com que o calor desse abraço chegue aos quatro cantos do Brasil, porque não está fácil", desabafa.

"O Circo Voador é um palco plural, democrático, alternativo e generoso. Também é muito exigente. Ele quer que você brilhe", disse Criolo, que revelou parte do seu repertório: "Bogotá" (do segundo álbum do cantor, "Nó na orelha", de 2011), "Vai ser assim" (do Coletivo Instituto) e as duas novas faixas do músico: "Boca de lobo vai ser aquele desabafo total no palco".