ASSINE
search button

Exposições na reta final

No intervalo exato de um mês, mostras têm suas últimas semanas no MAM - a primeira delas, de Cesar Oiticica Filho, vai até este domingo

João Pequeno -
Através do vidro, vista do jardim do MAM (no fundo, à direita) se confunde com as peças da mostra
Compartilhar

A ideia inicial era durar apenas dois meses, mas a boa receptividade levou o Museu de Arte Moderna a manter em cartaz exposições que começam a entrar agora em seus períodos finais, contando a prorrogação.

No térreo, até interagindo com o ambiente das paisagens do jardim externo, "Metaimagens", de Cesar Oiticica Filho vai até o próximo domingo, dia 24, depois de estrear em agosto de 2018. Com previsão inicial de ir somente até outubro, a mostra multimídia sobre o "fim da fotografia como nós a conhecemos" completa seis meses, assim como "Antonio Dias O ilusionista", que estreou em setembro do ano passado e fica o próximo até 24 de março, com 56 peças presentes no acervo do museu da obra do artista, que morreu de câncer, aos 74 anos, um mês e meio antes da abertura da mostra.

Macaque in the trees
"Núcleo metaimagético" foi criado retrabalha fotos e negativos atingidos por um incêndio (Foto: João Pequeno)

Nesse meio tempo, outras duas mostras com acervo do próprio MAM ficam até 10 de março: "Constelações" e "Horizontes", focadas, respectivamente em retratos e paisagens.

Metaimagens

Logo na entrada do MAM, as "Metaimagens" são iluminadas por lâmpadas de LED, simulando incandescentes no centro de onde estão montadas e, por fora, pelo sol, cuja luz entra pelas paredes do foyer, no início da mostra, que tem em si um passeio circular, com roteiro em sentido horário.

No meio desse pátio, o "Núcleo metaimagético" é a peça central da mostra - inclusive geometricamente -, concebida depois de um incêndio que, em 2009, destruiu parte das fotos e do equipamento de Cesar.

Macaque in the trees
Com skate e óculos de realidade virtual, visitante refaz passeio do artista sobre rodas em Nova York (Foto: João Pequeno)

O curto-circuito que pôs em chamas a sala do Projeto Hélio Oiticica - do qual era curador, no Jardim Botânico - acabou dando origem à analogia que o artista plástico, fotógrafo e cineasta faz sobre o que considera o fim da fotografia como nós a conhecemos, com o advento das imagens digitais.

Daí vem o nome dado por Cesar às "metaimagens", modificadas ao acaso de um acidente, pelo fogo, "que sempre transforma as coisas, até na forma metafísica", de fotografia em outras formas de expressão, a partir das imagens saturadas - o que se reforça com a exposição à luz do sol, traduzindo-se em uma psicodélica sobreposição dos negativos e das cópias atingidos pelo incêndio e, depois, modificados pelo artista.

Na parede ao fundo, gravado, o olho da mulher de Cesar Oiticica Filho pisca por trás das embalagens de suas lentes de contato azuis e esverdeadas, enquanto um TV, ao lado, mostra as formas dos movimentos dos visitantes que as vestiram roupas especiais em tiras de LED para dançar em uma festa que aconteceu anexa à exposição, ainda no ano passado.

Dando a volta em torno do "Núcleo metaimagético", três jarros de vidro ("transobjetos") têm grãos de feijão contornados por arroz, uma vela de gel acesa sobre água e óleos de soja e de dendê, que, com diferentes densidades, não se misturam no mesmo espaço.

Ao lado, o visitante monta em um skate e põe um par de óculos fechados no qual vê um filme feito pelo próprio artista em 2017, com um smartphone. Dessa forma, vê o passeio que Cesar realmente fez andando de skate, em Nova York, mas sem sair do lugar. "Você não sabe mais o que é realidade, o que não é. Alguns tiveram até vertigem", admite o artista.

Macaque in the trees
"Metaimagens", de Cesar Oiticica Filho, vai até este domingo no MAM, que tem mais três exposições em cartaz (Foto: Fotos: João Pequeno)

Ao final, uma cama e um tapa-olho são oferecidos para relaxar, para "acabar com a imagem, sentir o calor que vem no corpo, o vento que bate do ventilador".

Criação e memória em acervos históricos

A exposição do acervo próprio do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - além de obras cedidas da coleção Gilberto Chateaubriand ao museu - é característica comum das três mostras que vão até março, uma dedicada à obra de Antonio Dias (1944-2018) e duas temáticas combinadas, com foco nos gêneros de retrato e paisagem, da pintura.

Antonio Dias - O ilusionista

Aberta em setembro de 2018, no terceiro do MAM, a mostra entrou em cartaz menos de dois meses da partida do artista, em 1º de agosto do ano passado. As 56 obras são peças do acervo próprio do MAM e da Coleção Gilberto Chateaubriand, cedidas ao museu.

Prorrogada até 24 de março, "O ilusionista" reúne trabalhos construídos em diversos suportes e materiais, conforme o paraibano, nascido em Campina Grande em 1944, começou a fazer nos anos 1960, já morando no Rio de Janeiro.

Macaque in the trees
Quadro sem título de Iberê Camargo, de 1953, é uma das paisagens expostas pelo MAM em "Horizontes" (Foto: Fábio Ghivelder/Divulgação)

Foi nessa época que, após frequentar as aulas de Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes, Dias conheceu artistas do neoconcretismo carioca e entrou fundo na alta diversidade de técnica suportes, em especial o papel artesanal, na linha que Hélio Oiticica (1937-1960) apelidou de "antiquadros".

Tais inovações ganharam peso em duas marcantes exposições realizadas em 1965 pelo mesmo Museu de Arte Moderna: "Opinião 65" e "Propostas 65". No mesmo ano, Dias ganhou o Prêmio de Pintura da Bienal de Paris, que o motivou a desembarcar na capital francesa, em 1966, vivendo posteriormente também na Itália (Milão) e na Alemanha (Berlim e Colônia). Em 1992, voltaria à Europa, como professor de academias de Belas Artes em Salzburgo, na Áustria, e da Karlsruhe, na Alemanha.

Macaque in the trees
Em seu "Autorretrato", de 1950, Antonio Bandeira é um dos diversos artistas que figuram em "Constelações" (Foto: Romulo e Valentino Fialdini/Divulgação)

Curadores da exposição, Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes ressaltam que Dias "encontrou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro uma instituição sintonizada com as questões que contribuíram de modo decisivo para a renovação da produção artística brasileira", em um ciclo virtuoso de mão dupla. "Definitivamente não é possível contar nossa história sem falar de Antonio Dias, assim como nossas coleções não teriam a mesma força sem as quase 60 obras do artista que delas fazem parte e que agora podem ser vistas pelo público do Museu".

Um dos destaques da mostra, "O espetacular contra-ataque da arraia voadora", de 1966, combina pinturas em guache e nanquim com colagem sobre papel, na simétrica dimensão quadrada de 33 por 33 centímetros.

Constelações e Horizontes

Também com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, duas mostras vão até 10 de março investigando as variedades de retratos e paisagens, no segundo andar do MAM.

Com mais de 220 obras, de mais de 140 artistas brasileiros e estrangeiros, "Constelações" e "Horizontes" abordam, respectivamente, os gêneros de retratos e paisagens, em r gravuras, objetos, fotografias, vídeos e instalações.

"Em algumas obras, nem o corpo todo aparece, apenas pedaços ou sinais", explica Fernanda Lopes, que selecionou as mais de 120 peças de "Constelações - O retrato nas coleções MAM Rio", entre títulos pertencentes à coleção própria do Museu de Arte Moderna, à de Gilberto Chateaubriand, e à de Joaquim Paiva, sobre um dos gêneros mais antigos da pintura.

Macaque in the trees
De 1965, "Um pouco de prata para você" ilustra o trabalho de Antonio Dias em parceria com o MAM (Foto: Sérgio Guerini/Divulgação)

Não faltam artistas retratados por colegas, como Milton DaCosta (1915-1988) nas cores da Djanira (1914-1979) e um expressivo autorretrato do cearense Antonio Bandeira (1922-1967), entre diversos trabalhos desse gênero de outros importantes expoentes do modernismo brasileiro como Anita Malfatti, Oswaldo Goeldi, Di Cavalcanti, Maria Leontina, Ismael Nery e Vicente do Rego Monteiro.

Por mais corriqueiro que já fosse esse hábito no período modernista, o MAM lembra que, dois séculos antes, "não era qualquer um que podia ser retratado". Até o século 18, pinturas com retratos pessoais eram restritos a membros de famílias reais, militares de alta patente vitoriosos em guerras e integrantes do alto clero religioso, conforme explica a curadoria na apresentação de "Constelações".

Já "Horizontes A paisagem nas coleções MAM Rio" revisita esse outro gênero clássico com mais de 100 obras de quase 70 artistas, pertencentes a diferentes gerações, como Regina Vater, Carlos Zilio, Alfredo Volpi, Thereza Simões, José Pancetti, Daniel Murgel, Wanda Pimentel, Lucia Laguna, Cícero Dias, Ernesto de Fiori e Eduardo Coimbra.

A exposição tem como ponto de partida as pinturas de paisagem, de modo a revisitar e também repotencializar este que é um dos gêneros clássicos da pintura. A mostra abrange mais de uma centena de obras de quase 70 artistas, de diferentes gerações, como Regina Vater, Carlos Zilio, Alfredo Volpi, Thereza Simões, José Pancetti, Daniel Murgel, Wanda Pimentel, Lucia Laguna, Cícero Dias, Ernesto de Fiori e Eduardo Coimbra. Todas as obras integram o acervo do MAM Rio, pertencentes à coleção própria e à de Gilberto Chateaubriand.

João Pequeno - Com skate e óculos de realidade virtual, visitante refaz passeio do artista sobre rodas em Nova York
João Pequeno - "Núcleo metaimagético" foi criado retrabalha fotos e negativos atingidos por um incêndio
Fotos: João Pequeno - "Metaimagens", de Cesar Oiticica Filho, vai até este domingo no MAM, que tem mais três exposições em cartaz
Romulo e Valentino Fialdini/Divulgação - 'O espetacular contra ataque da arraia voadora', pinturas em guache e nanquim com colagem sobre papel, de 1966
Sérgio Guerini/Divulgação - De 1965, "Um pouco de prata para você" ilustra o trabalho de Antonio Dias em parceria com o MAM
Romulo e Valentino Fialdini/Divulgação - Em seu "Autorretrato", de 1950, Antonio Bandeira é um dos diversos artistas que figuram em "Constelações"
Fábio Ghivelder/Divulgação - Quadro sem título de Iberê Camargo, de 1953, é uma das paisagens expostas pelo MAM em "Horizontes"

Serviço

-

MUSEU DE ARTE MODERNA

Avenida Infante Dom Henrique, 85, Centro (Aterro, altura do Castelo). Tel.: 3883-5600. De terça a sexta, das 12h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 18h. Ingressos: R$ 14. Entrada gratuita às quartas. www.mamrio.org.br.

METAIMAGENS. Instalações, vídeos, pinturas e realidade virtual de Cesar Oiticica Filho. Foyer (pátio térreo). Até 24 de fevereiro.

CONSTELAÇÕES E HORIZONTES. Mais de 220 obras, de 140 artistas, representando dois gêneros clássicos da pintura: retratos e paisagens, respectivamente. 2º andar. Até 10 de março.

ANTONIO DIAS – O ILUSIONISTA. Acervo do MAM e da coleção Gilberto Chateaubriand, reunindo 56 obras do artista paraibano (1944-2018). 3º andar. Até 24 de março.