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François Ozon põe crimes sexuais de padres católicos no foco da Berlinale

Tobias SCHWARZ / AFP -
Diretor francês François Ozon
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Numa das cenas mais contundentes de "Grâce à Dieu", o mais polêmicos (até agora) dos 17 concorrentes ao Urso de Ouro de 2019, um adolescente olha para o pai, Alexandre (Melvil Poupaud), que acaba de denunciar o padre que abusou sexualmente dele na infância, e pergunta: "O senhor ainda acredita em Deus?".

O silêncio e o engasgado, diluídos na forma de um sorriso de "dever cumprido", diante de uma acusação que não sabemos onde vai dar, desenha a tônica tensa do novo longa-metragem do realizador parisiense François Ozon, em seu trabalho mais sólido. É o título do 69. Festival de Berlim em que os exibidores da Europa mais apostam, ao especularem sobre as potenciais bilheterias astronômicas do ano. Ozon é um expert em lotar cinemas, como visto nos milhões de ingressos que vendeu com "8 mulheres" (2002) e "Dentro da casa" (2012).

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Diretor francês François Ozon (Foto: Tobias SCHWARZ / AFP)

"Eu venho de um histórico de personagens femininas fortes. Queria, sem abrir mão delas, fazer algo similar com os homens, criar personagens masculinos fortes, em meio a um dilema de vida", disse Ozon à Berlim, que levou para a coletiva de imprensa do filme uma série de elogios ao roteiro.

Palavroso, mas poderoso em seus 137 febris minutos, "Grâce à Dieu" é centrado na história (real) de três homens abusados por um mesmo padre na infância. As vítimas são o já citado Alexandre (Poupaud), Emmanuel (Swann Arlaud) e François (Denis Ménochet, em uma brilhante atuação). O trio decide levar o sacerdote à Justiça, mas a Igreja se posiciona de maneira controversa.

"Minha ideia foi criar uma história de utilidade pública com uma narrativa em três atos, cada um dedicada a um dos personagens centrais, sem esquecer a força das mulheres deles e de suas famílias", disse Ozon, que anda preocupando o próprio Vaticano com a contundência de sua narrativa.

A Berlinale segue até o dia 17. Esta noite o festival confere uma prata da casa, "The Golden Glove", de Fatih Akin, diretor de origem turca radicado em Hamburgo.