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Bastidores da magia

Exposição no CCBB mostra como as animações da DreamWorks são feitas, do esboço à finalização

Divulgação -
Escultura de um dos pinguins de "Madagascar"
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Quando assistimos a uma animação, até imaginamos como foi árduo o processo de criação de todos aqueles personagens e cenários. Porém, só conhecendo um pouco dos bastidores de um grande estúdio é que se tem a dimensão do quão detalhista e criativo é o trabalho desses profissionais da magia. É isso que a "DreamWorks Animation: A Exposição - Uma jornada do esboço à tela" propõe, a partir de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil. Numa parceria entre o Australian Centre for the Moving Image (ACMI), que fica em Melbourne, e a DreamWork Animation, a exposição reúne 400 itens, entre desenhos, storyboards, máscaras, mapas, fotografias, pôsteres, pinturas e artes originais. Lá estão detalhes de todos os desenhos do estúdio, mas com maior enfoque em Shrek, Madagascar, Kung Fu Panda e Como treinar seu dragão. "Foram dois anos de pesquisa e desenvolvimento da exposição. Passamos muito tempo 'pescando' nos arquivos da Dreamworks e conversando com as equipes de diferentes departamentos. Foi demorado descobrir materiais e combiná-los com as histórias e temas que queríamos explorar", conta a curadora Sarah Tutton dos Estados Unidos por email.

O tour pela exposição, que é dividida em três partes - Personagens, História e Mundo - começa pelo primeiro andar do prédio. Depois, a visita segue pelo foyer, onde foi instalado o "Voo do dragão", um minicinema 360 graus, e chega à Drawing Room, onde os visitantes podem desenhar e dar movimento a seus personagens. "Mais do que mostrar esses bastidores e o passo a passo da criação, a exposição quer permitir uma interação e, acima de tudo, diversão para o público", diz Paul Bowers, diretor do ACMI, que veio ao Brasil apresentar a mostra.

Os esboços - o primeiro passo para se construir personagens - estão no início da exposição que tem, por exemplo, vários quadros que mostram o desenvolvimento do Shrek. "Quando se vê na tela, nem se faz ideia de como eles nasceram diferentes. É sempre uma construção colaborativa que leva ao personagem final", explica Paul, acrescentando que foram necessárias três semanas dentro da DreamWorks só para pensar em como montar a primeira parte dos personagens. "Um dos primeiros itens que a produção selecionou - e teve certeza de que tinha que estar presente - foram os storyboards dos personagens de 'Madagascar' onde se veem as anotações do diretor de arte. Assim, é possível ter a clara ideia dos bastidores de sua criação", conta ele. "Gosto muito de alguns raros esboços de 'Shrek', 'Madagascar' e 'Spirit'. Vistos juntos, esses desenhos mostram a variedade de estilos e abordagens para o desenvolvimento de personagens", opina Sarah.

Ainda nessa primeira parte, há telas interativas para o visitante mudar detalhes no rosto de personagens e um vídeo que releva algo bem pouco conhecido de bastidores: "Os próprios animadores interpretam e fazem os movimentos dos personagens, para poderem amadurecê-los. Às vezes, fazem tão bem que acabam dublando", revela Paul.

Interpretação, aliás, parece ser um pré-requisito para alguém se tornar um animador, pelo menos na DreamWorks. A seção "História" tem logo no início um vídeo em que um dos profissionais representa, quadro a quadro, as cenas de "Shrek" (a tortura do Biscoito) e de "Madagascar" (os pinguins no avião). "Ele apresenta, inicialmente, para os próprios colegas. Se eles rirem, é porque está ok. Se ficarem entediados, aí não é bom", brinca Paul. Nessa segunda parte da visita ainda pode-se ver a reprodução de uma mesa de desenho - com alguns detalhes, a exemplo de um copo de café derrubado - e a comparação de números de storyboards entre um e outro filme. "Quanto mais a tecnologia avança, mais os desenhos são importantes. Em 'Shrek', de 2001, foram 45 mil, enquanto os últimos lançamentos têm o dobro", diz.

Um mundo de possibilidades

O tema da terceira parte da exposição da Dreamworks explica como ambientar o personagem e a história, de forma que se tornem atraentes para o público. "Mundo" começa com dois grandes painéis do filme "Os Croods", com telas interativas, em que o visitante pode ajustar luz e cores de algumas cenas.

"É nessa fase que os animadores decidem se vão criar mundos reais ou fantásticos. 'Como treinar seu dragão' foi inspirado nos vikings, já 'Madagascar' é hiperrealista. Observando também 'Formiguinhaz' e 'Bee movie', vemos que, apesar de os dois serem sobre insetos, têm estilos completamente diferentes", exemplifica Paul Bowers, diretor do ACMI.

Em animações, cada detalhe é precioso e, quase sempre, muito complicado de se fazer, como acontece com os líquidos. "É o efeito mais difícil, tanto que a DreamWorks criou seu próprio software para fazê-lo", diz ele.

Um simulador de movimentos de um oceano e de trilha sonora são as áreas interativas da sala, que trazem, ainda, algumas maquetes. "Muitas vezes o artista só consegue definir a importante questão de luz e sombra com estruturas físicas. É incrível o trabalho de maquetes e modelos, que, muitas vezes, sequer vão aparecer na tela", destaca.

No foyer do CCBB, foi instalado outro simulador, em que as pessoas têm a sensação de voar nas costas de Banguela, de "Como treinar o seu dragão". Porém, o mais interessante é que o vídeo resume tudo o que foi visto na exposição, a começar pelos traços mais simples, e vai, gradualmente, até a animação finalizada. "A ACMI convenceu a DreamWorks a mostrar as fases consideradas 'imperfeitas' ou 'feias' do processo. É a parte da exposição, no mundo todo, onde as pessoas mais voltam. A cada vez que você assiste, prestando atenção a diferentes detalhes, fica melhor", assegura Paul. A curadora Sarah Tutton reforça: "Um dos principais objetivos de quando estávamos montando a exposição foi reproduzir a sensação de como é trabalhar dentro do clima incrivelmente criativo e colaborativo da Dreamworks. O 'Vôo do dragão' é uma das minhas experiências imersivas preferidas, pois fornece uma visão incrível do processo criativo do estúdio".

"DreamWorks Animation: A exposição - Uma jornada do esboço à tela", que já passou pelo Canadá, Coreia do Sul, México, Nova Zelândia, Cingapura, Austrália e Taiwan, fica em cartaz até o dia 15 de abril e, depois, segue para o CCBB de Belo Horizonte. "O que tem sido mais incrível na itinerância da exposição por diferentes culturas é o apelo universal dos filmes e personagens da Dreamworks. Sejam eles traduzidos para o português, espanhol ou coreano, personagens como Shrek, Po e Poppy são amados da mesma forma", observa a curadora.