ASSINE
search button

Com humor, 'Tudo o que há Flora' mergulha no inconsciente de uma mulher que recebe visitas do passado enquanto aguarda pelo marido

Divulgação -
Armando (Cirillo Luna) sobe do buraco ao palco surpreendendo demais personagens
Compartilhar

Sobre um palco diminuto, três bancos giratórios. Sob o assoalho, três buracos pelos quais afloram os três personagens masculinos – que sobem e surgem durante uma manhã do dia da protagonista. Sobre o piso, há sempre Flora, cuja expectativas movem o enredo da peça que a Nossa! Cia de Atores Cia. de Atores apresenta no Planetário da Gávea até o próxima fim de semana. O trocadilho do nome é um dos múltiplos sentidos que marcam “Tudo o que há Flora”, peça que, em 2015, rendeu os prêmios Cenym de melhor companhia teatral, à Nossa! Cia. de Atores, e Botequim Cultural de melhor cenografia, tanto ao veterano Fernando Mello da Costa, 68, quanto de melhor texto a Luiza Prado, que fez sua estreia como autora teatral.

Macaque in the trees
Armando (Cirillo Luna) sobe do buraco ao palco surpreendendo demais personagens (Foto: Divulgação)

Escritora e roteirista de TV e cinema, Luiza foi chamada pela protagonista Leila Savary, sua colega de Tablado, para escrever o texto da peça no estilo que a Nossa! pensava em montar – e que é dirigida por outro veterano, Daniel Herz, um dos fundadores da Cia. Atores de Laura, no início dos anos 1990.

“Eles tinham essa ideia de trabalhar com base no Teatro do Absurdo e sabiam que eu tinha essa pegada tragicômica”, conta Luiza, que, entre 2013 e 2015, trabalhou nos roteiros do seriado humorístico “Vai que cola”, do Multishow, e do longa-metragem cinematográfico homônimo que ele inspirou.

O recurso de humor meio nonsense contribui para outra ambiguidade, ao narrar o peso do drama psicológico da personagem principal. “A gente tá o tempo todo falando sobre uma mulher que tenta se comunicar e acaba vivendo muito dentro de seu inconsciente. Basicamente, fala sobre solidão e o que você faz com essa solidão, como lidar com essa frustração”, afirma Luiza Prado, também autora do livro de poesias “{doce-amargas} prosas poéticas erráticas” (2017) e que lança mão desse estilo na dramaturgia.

Flora repete o ritual diário que vai da arrumação da mesa à do laquê para esperar o marido Armando, interpretado pelo ator convidado Cirillo Luna. Antes dele, e do almoço, chegam outros dois homens, vividos por Lucas Drummond e Diego de Abreu. As visitas inesperadas levam a protagonista encenada por Leila Savary a rever dolorosos momentos de um passado do qual ela tenta se esquecer – a iminência da chegada do marido aumenta ainda mais a angústia da mulher, para quem a realidade, em si, é um sofrimento.

Macaque in the trees
Luiza Prado venceu o prêmio Botequim Cultural de melhor texto, em sua estreia no teatro (Foto: Divulgação)

Era uma casa muito engraçada

Aparentemente tosco, de acordo com ambiente da trama, o também premiado cenário de Fernando Mello da Costa não somente compõe a cena como é desenhado de forma essencial para a movimentação dos atores e a revelação de seus personagens ao longo do desenrolar da peça, com figurinos de Antônio Guedes, iluminação de Aurélio de Simoni e trilha sonora original de Pablo Paleologo.

“A Flora fica em um só cômodo, mistura de porão, sala, cozinha, tudo meio misturado, em um palco de dois por dois [metros], quase uma ilha”, resume Luiza Prado. “Ali, não tem quase nada, além de uns eletrodomésticos e um cabide, com o vestido de noiva dela e o paletó de noivo do marido, em frente a umas janelas meio bizarras, tudo meio amontoado, bagunçado”, acrescenta. “Como é a vida dela”, conclui. 

Serviço

TUDO O QUE HÁ FLORA

Teatro Maria Clara Machado. Avenida Padre Leonel Franca, 240, Gávea (Planetário). Tel.: 2274-7722. Sexta e sábado às 21h; domingo às 19h. Até 27 de janeiro. Entrada: R$ 40 (inteira) / R$ 20 (meia). Capacidade: 120 espectadores. Duração: 75 minutos.

Divulgação - Luiza Prado venceu o prêmio Botequim Cultural de melhor texto, em sua estreia no teatro
Tags:

estreia | flora | teatro